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Opinião: Ciclovias, bicicletas, e trotinetas: Porquê?

07 de julho às 12 h30
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Nos últimos anos temos assistido ao surgimento de ciclovias em vários municípios portugueses, verificando-se, em geral, uma forte adesão dos cidadãos. Tratava-se de facto de uma procura latente, para a qual os urbanistas e especialistas em mobilidade urbana vinham alertando há décadas. Apesar destas iniciativas recentes, há ainda um longo caminho a percorrer.
Em Coimbra, as novas e as renovadas ciclovias seguem ao longo das margens do rio Mondego, desde a Quinta da Portela até ao Choupal, numa extensão de 7km. Na Figueira da Foz, há também uma ciclovia ao longo de toda a frente marítima, que se inicia no sopé da Serra da Boa Viagem, cruza o areal da Praia da Claridade e termina na Foz do Mondego. Aí, segue para montante, paralelamente ao rio, até à estação ferroviária, onde se inicia o troço que irá integrar a nova Ciclovia do Mondego – um investimento conjunto dos municípios de Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz – que deverá atingir um comprimento total de quase 50km. Na Região Centro é também sobejamente conhecida a Ecopista do Dão.
O que têm em comum estas infraestruturas? Todas elas se localizam em zonas de elevado valor cénico e se destinam a uma utilização quase exclusivamente lúdica. De facto, observa-se que estas ciclovias têm grande utilização nos dias de fim-de-semana e estão quase sempre vazias durante os cinco dias da semana de trabalho. Ou seja, tratam-se de investimentos que, logo à partida, estão limitados. Reduzem-se a uma única função (turismo e lazer) e a uma diminuta utilização temporal.
Ora as ciclovias podem (e devem!) ser muito mais do que isto. De facto, têm um potencial único para promover uma renovação significativa das nossas cidades e melhorar a forma como nelas vivemos e nos deslocamos. Assim, o grande “salto evolutivo” acontecerá quando se progredir das ciclovias destinadas a atividades de lazer para as ciclovias em ambiente urbano, destinadas à mobilidade do dia-a-dia para realização de várias atividades do quotidiano (não todas as atividades, claro).
Por que devem os nossos governantes continuar a investir em ciclovias, dando este salto evolutivo?
• Adesão crescente – por si só, o facto de cada vez mais pessoas as utilizarem é um sinal claro de que se deve continuar a aumentar a rede de ciclovias. Note-se que o conceito de rede é essencial. A construção de ciclovias lineares – com origem num ponto A, seguindo por vários quilómetros, até ao destino no ponto B – é bastante redutor. A conectividade é crucial para multiplicar as oportunidades de acesso e a frequência de utilização. Para além disto, hoje em dia as ciclovias não são só para as bicicletas, mas também para as trotinetas elétricas, os “hoverboards”, etc.
• Saúde e qualidade de vida – vários estudos científicos, das áreas dos transportes à medicina e à psicologia, apontam a mobilidade suave (a pé, de bicicleta ou trotineta) como extremamente benéfica para a saúde mental, a saúde física e o bem-estar.
• Segurança – diferentes veículos necessitam de diferentes infraestruturas. Se construímos linhas ferroviárias para os comboios e faixas de rodagem para os automóveis, também as bicicletas e trotinetas necessitam de infraestrutura adequada. É um grande risco sujeitar o frágil corpo humano de um/uma ciclista a um potencial embate com automóveis, autocarros e camiões, que pesam toneladas e circulam a velocidades muito superiores. E, embora de menor gravidade, há também conflitos com peões, caso as bicicletas e trotinetas circulem nos passeios. As ciclovias são, assim, fundamentais e, por este mesmo motivo, inevitáveis.
• Eficiência na utilização de recursos – a bicicleta é, de longe, o meio de transporte mais eficiente que existe. Um automóvel é uma máquina complexa que pesa cerca de 1,5 toneladas e, na grande maioria das vezes, é usado para transportar apenas uma pessoa. Ora, essa mesma pessoa, facilmente se desloca numa bicicleta, que é um veículo simples e leve com apenas 10 a 15 kg. Para além disso, a aquisição de um automóvel é tipicamente a segunda maior despesa das nossas vidas (logo a seguir à compra de casa). Sabia que esse grande “investimento”, em média, está parado mais de 90% do seu tempo? Se possui carro, faça as contas. Quantas horas por dia passa a dormir? Quantas horas por dia passa no trabalho? Quantas horas por dia dedica a outras atividades como alimentar-se, ver televisão, praticar desporto, conviver com família e amigos, etc.? Agora adicione estas horas.
• Sustentabilidade e Descarbonização – os modos suaves de mobilidade são também dos mais sustentáveis, isto é dos menos poluentes. Assim, promover a mobilidade suave através da criação de uma rede extensa de ciclovias, contribui para dar resposta ao maior desafio dos nossos tempos – a descarbonização e a ação climática.
• Equidade nos transportes e acesso às oportunidades – os modos suaves de mobilidade são dos mais acessíveis e mais igualitários. Assim, promover a construção de novas ciclovias, é promover a igualdade de acesso a oportunidades entre os mais e os menos desfavorecidos e promover a mobilidade dos mais jovens.
Por último, se é um indefetível condutor automóvel, tem também bons motivos para apoiar a criação de ciclovias. Primeiro, quanto mais ciclovias houver, menos ciclistas haverá a “empatar” na faixa de rodagem. Segundo, quanto mais se promover a transição do veículo automóvel para os modos suaves, mais espaço sobrará para si na faixa de rodagem. Assim, os automobilistas serão até dos maiores beneficiados com a construção de ciclovias.
Aproximam-se as eleições autárquicas. Vamos construir melhores cidades, seguras e sustentáveis, e adequadas para todos nós?

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