Opinião – Assim ficamos todos sem energia
Não é novidade para ninguém (ou pelo menos não o será para os mais atentos), mas até que o seja, para quem todos os meses tem que lidar com os valores que daí resultam, aí novidade não será certamente e esse termo poderá e deverá ser substituído pelo termo preocupação. Refiro-me concretamente à evolução dos preços dos mercados da luz e do gás.
Com os últimos dias a serem marcados pela realização da 26ª Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP26 ) e pela evidente dificuldade em se chegar a um acordo, fica fácil perceber que a neutralidade energética da economia mundial ainda está longe de ser uma realidade e que as alternativas não são ainda suficientes para serem solução. Marcar limites claros no que diz respeito à poluição é uma questão de sobrevivência, mas a marcação desses limites não basta, sendo necessário que se consiga fazer com que os grandes poluidores do planeta os cumpram. E com a Índia (um dos principais poluidores mundiais) a forçar um acordo diferente do inicialmente aponte como desejável, é questionável o sucesso desta COP26. Visto “de fora” e por um leigo na matéria como sou, parece-me que a dada altura a discussão tinha mais que ver com dinheiro do que com a vida do planeta. Quanto é que o rico paga ao pobre para parecer preocupado e quanto é que o pobre consegue obter do rico para poder ir fazendo alguma coisa no sentido de salvaguardar a sua sobrevivência. Isto torna-se evidente quando percebemos que para além da definição de valores, os países menos desenvolvidos se preocupam de igual forma na definição/criação de métodos que permitam comprovar que as verbas definidas venham a ser pagas. O pobre reconhece o rico, mas tem dúvidas que o rico seja sério. E é por este motivo que tenho dúvidas que os resultados venham a ser os desejáveis. No momento em que se discute a sobrevivência do planeta Terra, dinheiro é parte da solução, mas seriedade e compromisso é-o, na minha opinião, numa proporção bem mais significativa.
Olhando mais concretamente para a realidade portuguesa, e porque é cá que as nossas empresas têm que lutar pela sua sobrevivência, julgo poder dizer que as empresas portuguesas são entidades cada vez mais preocupadas com o meio ambiente. Tal como o país, também as nossas empresas têm percorrido o caminho no sentido da energia limpa – a muito significativa aposta na energia fotovoltaica é um bom exemplo disso mesmo. Mas nem tudo são rosas. A independência energética de uma empresa é uma impossibilidade. Podemos conseguir minimizar a necessidade de fornecimentos da rede, mas esses em menor ou maior dimensão são sempre uma necessidade e, nesse fornecimento, a energia ser mais ou menos limpa não é uma competência de quem a consome, é obviamente uma competência de quem a produz, transforma e comercializa.
Energia limpa ou menos limpa? A resposta é cara… muito cara. Cara ao ponto de colocar em causa a viabilidade de muitas empresas no nosso país. Conscientes de que os preços do mercado energéticos estão de tal forma desequilibrados, os ministros da energia da União Europeia reuniram de forma extraordinária para coordenar medidas nacionais de mitigação e apoio. Efeitos práticos conhecidos até ao momento no que a empresas diz respeito? Um redondo zero. A factura da eletricidade duplica, a factura do gás aumenta 30%, a factura do combustível aumenta 25%, a matéria-prima da cadeia de fornecimento por consequência disto mesmo aumenta 20%. Para quem opera com contratos de fornecimento celebrados ao ano ou até mesmo ao semestre. Para quem opera no mercado da exportação e tem que ser competitivo à escala global. Para quem a energia é a sua principal matéria-prima. Como é que alimentamos os nossos negócios? Reflectimos no preço? Nem sempre é viável. E não, o consumidor final não suporta tudo. Reduzimos a margem? Só o podemos fazer se existir margem. Esperamos melhores dias? Sim, se houver a capacidade de criar perspectivas a curto prazo. Sem rumo, sem perspectivas e sem horizonte é impossível. Faça-se alguma coisa rapidamente. Assim, ficamos todos sem energia!
*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.