Opinião: A degradação do espaço público e a (des)construção da vida comunitária

Jane Jacobs, uma das figuras mais influentes do urbanismo do século XX, afirmava que a vitalidade de um bairro ou cidade não se deve avaliar pela qualidade ou quantidade de edifícios e infraestruturas, mas pelas interações sociais que ocorrem nos seus espaços públicos. Assim, passeios, praças e parques não devem ser encarados como meros locais de trânsito ou lazer, mas como instrumentos para fortalecer laços sociais e promover a vida em comunidade.
As praças e os parques degradados ou abandonados revelam problemas nas dinâmicas sociais e políticas. Vivemos numa época em que a omnipresença da tecnologia, as exigências do trabalho e o impulso de um consumo exacerbado têm reduzido o tempo e a disponibilidade para o convívio ao ar livre. Já não é tão comum ver crianças a brincar nos parques ou vizinhos a conversar em bancos de jardim. Em alguns casos, esta transformação das dinâmicas sociais tem relegado os espaços públicos para segundo plano na agenda das autoridades locais, resultando numa falta de investimento em limpeza e manutenção que os torna ainda menos atrativos.
Em Coimbra encontramos exemplos representativos de diferentes fases deste preocupante processo. Alguns, como o circuito de manutenção da Mata do Choupal, estão há anos num estado de ruína e voltados ao esquecimento. Outros, no entanto, agonizam pela falta de limpeza e manutenção, degradando-se até se tornarem completamente inutilizáveis. As docas do Parque Verde do Mondego, outrora cenário de piqueniques à beira-rio, transformaram-se num amontoado de tábuas instáveis, cobertas de excrementos de pássaro e precariamente fixadas por pregos enferrujados. Mas o caso provavelmente mais emblemático é o dos espaços públicos que nunca chegaram a cumprir a função para a qual foram concebidos. O parque situado atrás do supermercado da Avenida da Guarda Inglesa, por exemplo, foi abandonado pouco depois da sua inauguração e permanece oculto pela densa vegetação, com candeeiros partidos e fios elétricos expostos.
Recuperar estes espaços públicos não é apenas uma questão de estética urbana. Exemplos como os mencionados (a lista é extensa e seria impossível enumerá-los a todos em poucas linhas) afastam as pessoas e privam a comunidade de momentos de convívio saudáveis, imprescindíveis numa época ameaçada pelo individualismo e o isolamento social.
Enquanto cidadãos, devemos exigir às autoridades governativas um compromisso com a recuperação, manutenção e limpeza destes espaços, dos nossos espaços. Não se trata de aceitar intervenções cosméticas superficiais, mas de reivindicar uma estratégia política de investimento consistente e com visão de longo prazo, que reconheça o papel fundamental destes lugares na qualidade de vida e na construção da identidade comunitária.