Opinião: 7 virtudes dos veículos elétricos e o futuro da humanidade
O Encontro Nacional dos Veículos Elétricos (ENVE), que teve lugar este fim-de-semana na Figueira da Foz, possibilitou o test-drive de novos modelos e esclarecimento de dúvidas sobre sistemas de carregamento. Os veículos híbridos e os totalmente elétricos são já uma realidade a considerar e, entre muitas outras razões que descrevo abaixo, justificam-se pela imperiosa necessidade de descarbonização da economia.
Durante milhares de anos a humanidade contou apenas com a energia da força muscular (própria ou de animais) para se deslocar. Mas no século XX, também apelidado como “século do automóvel”, os combustíveis fosseis tornaram-se a fonte primordial de energia para a locomoção (e não só!). Os cientistas andam a alertar-nos há décadas para as graves consequências da sua utilização desmedida, que provoca emissões de gases de efeito de estufa (GEE) e, consequentemente, aquecimento global e alterações climáticas.
Mas cuidado… o aquecimento global não vai destruir o planeta. Pelo contrário, a Terra é que deixará de ter um clima acolhedor para a frágil espécie humana, levando assim à nossa extinção. Por mais difícil que seja imaginar tal cenário, se todos e cada um de nós não alterar o seu comportamento, o “ponto sem retorno” climático poderá ser atingido no curto prazo.
Por esta razão, a União Europeia definiu como nova meta coletiva para 2030 atingir uma redução de, pelo menos, 55% na emissão de GEE relativamente aos valores de 1990. Note-se que temos já menos de dez anos pela frente mas estamos ainda longe desse objetivo.
Neste contexto, a transição energética nos transportes é um dos principais desafios que se nos colocam pois é dos setores mais poluentes, responsável por cerca de um quinto das emissões globais de GEE, e mais difíceis de mudar, dado que depende quase exclusivamente de uma só fonte – o petróleo.
O que pode cada um de nós fazer?
No caso de estar a ponderar a aquisição/troca de automóvel, por que não optar por um híbrido ou um elétrico?
Atualmente, há já várias razões lógicas para o fazer e, essencialmente, dois tipos de veículo por onde escolher – os híbridos plug-in (PHEV) e os totalmente elétricos (BEV).
1. os custos de utilização dos PHEV e dos BEV são muitíssimo inferiores aos de um veículo tradicional a gasolina ou gasóleo. Dependendo dos quilómetros que faz normalmente, pode poupar desde várias centenas a alguns milhares de euros por ano.
2. os custos de manutenção dos BEV são também muito inferiores. Os BEV são máquinas menos complexas do ponto de vista mecânico, que não possuem nenhum dos dez principais itens de manutenção de um veículo tradicional – deixa de haver mudanças de óleo do motor, dos filtros, etc.
3. os veículos híbridos (PHEV) não têm qualquer problema de autonomia face aos convencionais e no caso dos elétricos (BEV) a evolução tecnológica já reduziu substancialmente essa questão, existindo várias opções de BEV com 400 km ou mais de autonomia segundo a norma WLTP (que define testes com perfis de condução mais próximos da realidade).
4. há cada vez mais postos de carregamento elétrico e cada vez mais rápidos. Atualmente, em Portugal, há já mais de 600 postos de carregamento rápido e mais de 3600 postos normais. Note-se também que, da mesma forma que não atesta sempre o depósito do seu automóvel convencional, também não precisa de carregar a bateria de um BEV sempre até aos 100%. Assim, 15 a 20 minutos serão suficientes para mais 100 a 200 km. Para carregamento noturno (tal como fazemos com o telemóvel) é possível instalar um posto na sua garagem privativa e já há leis a enquadrar a instalação de postos em espaços de estacionamento do condomínio.
5. a experiência de condução de um veículo elétrico (BEV) é absolutamente fantástica. Quem experimenta, fica fã. Aceleração rápida, equilíbrio em curva (devido a melhor distribuição de peso do veículo), e segurança “acrescida” (devido à habitual colocação de um motor elétrico em cada eixo, o que fornece melhor distribuição da tração).
6. estes veículos são cada vez mais acessíveis. Para minimizar o (ainda) maior valor de aquisição, há incentivos e benefícios fiscais, quer para pessoas quer para empresas. No caso dos PHEV aplicam-se apenas em certos casos (autonomia elétrica de pelo menos 50km e emissões inferiores a 50g/km).
7. os BEV, por se tratarem de inovações criadas a partir do zero (em vez de adaptações de modelos já existentes), são veículos tipicamente muito apelativos em termos de design, com bastante espaço interior face à dimensão exterior, e apetrechados de tecnologias de info-entretenimento.
Por último, importa salientar que não basta substituir um automóvel poluente por um veículo “limpo/verde”. O ritmo de substituição/troca de veículos, cuja idade média em Portugal é superior a 12 anos, nunca permitiria alcançar as metas previstas (para 2030!). Para além disso, também não contribuiria para resolver problemas associados ao congestionamento rodoviário.
Assim, quer do ponto de vista da sustentabilidade geral quer do bem-estar individual, o fundamental é conseguir moderar a sua mobilidade (ou seja, reduzir o número de viagens e a distância total que percorre) e usar modos de transporte mais eficientes como andar a pé ou de bicicleta – por que razão usar um automóvel de duas toneladas para transportar uma pessoa, com um peso médio de apenas 75 quilogramas, em distâncias curtas? Acresce que um automóvel fica estacionado mais de 90% do seu tempo…