Aumento dos preços dos combustíveis deixa transportes num beco sem saída
Responsáveis de empresas de transportes da região Centro estão apreensivos com o futuro devido ao aumento do preço dos combustíveis. Assim, alguns estão a aumentar o preço do serviço, mas outros temem perder clientes se o fizerem.
João Medina, gerente da Rodomondego – Transportes de Mercadorias, admitiu à Lusa que esta situação lhe está a “tirar o sono”.
“Estamos numa incerteza, sem saber o dia de amanhã e se conseguiremos levar as coisas para a frente. Tivemos a pandemia, estivemos quase dois meses em lay-off parcial, depois o arranque foi complicado e chegámos ao fim do ano com uma quebra de faturação de mais de 200 mil euros”, contou.
Com mais de 15 viaturas a circular no estrangeiro e uma dezena em Portugal, a empresa de Coimbra usa a estratégia de abastecer em Espanha, mas de pouco serve, porque “sofre-se o aumento atestando em Portugal ou atestando em Espanha”.
“Já nem fazemos planeamento, só queríamos conseguir equilibrar as coisas e ir para a frente, mas isto está a ficar muito difícil. Se me perguntar se nos vamos aguentar muito mais tempo, não sei que resposta lhe dê”, acrescentou.
Nelson Sousa, administrador da JLS – Transportes Internacionais, de Viseu, disse que, nos últimos dois meses, a empresa tem subido os preços dos serviços que presta, mas que se nota “claramente uma quebra na atividade”.
“É a única forma. Pela fiscalidade já se viu que não vamos lá e o preço do combustível está a subir de uma forma generalizada não só em Portugal, mas pela Europa toda”, explicou o responsável, acrescentando que se nota, “de uma forma bem evidente, a quebra da exportação”.
Segundo Nelson Sousa, administrador da JLS, que tem cerca de 280 camiões, com o aumento do preço dos combustíveis, da energia e do AdBlue (líquido que reduz as emissões poluentes dos veículos a diesel), às empresas de transportes só resta “ajustar os custos de produção e as tabelas de venda”.
Também a administração dos Transportes Central Pombalense, de Pombal, referiu que, “com este aumento dos combustíveis, outros custos seguiram esta tendência”.
“O custo de produção do serviço de transporte (combustível, pneus, manutenção, entre outros) aumentou muito, esmagando as margens, que já se encontravam negativas (em agosto e setembro). Este clima de instabilidade acaba por se refletir também financeiramente na empresa, o que se torna incomportável”, lamentou.
Se, em 2020, o combustível representava 25% na estrutura de custos da empresa (que tem 322 viaturas), atualmente, representa 33%: “Desde o início deste ano, para a nossa empresa, os combustíveis tiveram um aumento de 29%”.
Artur Gaiola, da empresa de transportes com o mesmo nome, sediada na Covilhã, ainda não aumentou os preços aos clientes, apesar do impacto negativo que está a sentir.
“Ainda não estamos a aumentar os preços, mas, se o gasóleo não baixar, claro que vamos ter que mexer nas tabelas. O problema é que os clientes podem ir embora e depois passamos dificuldades”, afirmou.
Segundo Artur Gaiola, a sua empresa – que trabalha no setor nacional, em articulação com os transitários – tem atualmente “menos carga, faturação mais baixa e aumento de custos”.
“Desde há dois meses que caiu um pouco a exportação e a importação”, contou o responsável pela Artur Gaiola Transportes, que tem dez viaturas pesadas e 20 ligeiras.