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Opinião: A peste grisalha

30 de abril às 16h25
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As neves dominando as paisagens, criando mantos brancos que redefinem a forma e o desenho, embranquecendo tudo, permitindo uma imaginação que altera o papel imaculado que agora os olhos veem. Cai neve sobre a realidade. Cai a virgindade branca que tudo infantiliza, torna néscia a vida. A peste grisalha que cobre as cabeças vividas e demandam cores, constroem sobre as rugas um retrato sereno, pousado. As neves de inverno tornam branca a realidade. Tudo isto me lembra o discurso de Putin e seus generais em Janeiro e Fevereiro de 2022, quando os tanques visitavam as fronteiras da Ucrânia. Um discurso imaginativo, construindo desenhos diferentes dos que víamos nós. O putinismo é uma coisa que existiu nos Gulags, é uma neve que existiu no Holodomor de 1932, é uma imaculada que esqueceu as 500 mil violações de alemãs no final da guerra de 1945, é um lençol branco que tapou centenas de milhares de mortos que Churchill fez na Alemanha já depois da rendição, é um lenço a tapar a invasão do Iraque, a escolher refugiados, a falar de ambiente. Por isso a compra do Twitter é um acto revolucionário se impedir que só alguns usem o lençol, que poucos se limpem no papel branco. A imaculada deve ser tingida de todas as cores, de todas as mentiras e de todas as verdades. A protecção da realidade não é necessária, pois a realidade não muda na montanha branca. Os discursos e os tratados em favor de discursos aceitáveis, os discursos científicos que querem abafar a magia, apagar o néscio, impedir contraditórios, silenciar o inverosímil é castrador da liberdade do branco do papel. A censura de Magalhães é o putinismo português. Os normalizadores são parte do perigo norte coreano, da ideia imobilizadora, das balizas da visão. Normas e regras podem ser importantes para indicar, são boas para a coerência, são como os rótulos que permitem identificar, mas são os pilares do constrangimento evolutivo. Os códigos devem ser constantemente pensados. As regras devem estar sempre em verificação e adaptação para não serem imobilistas. Esta dicotomia obriga em favor do imaculado branco. O branco é a paz e a imaginação. O putinismo que deseja calar a adversidade está na moda, o tiranete mentiroso está dentro de todos os que usam expressões como “verdade científica”, os donos de aplicações redutoras da liberdade, os criadores de contol financeiro sobre as publicações. Estamos numa época de intensa reflexão sobre estes problemas pois o extremismo linguístico está a conduzir-nos contra a parede.

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