Opinião: “Eduardo Cabrita tem de se demitir”
 
                                        
                                    O Ministro da Administração Interna (MAI) tem obrigação de informar com exatidão o que aconteceu no acidente de automóvel em que morreu um trabalhador ao serviço da BRISA. Tem de ser claro a esclarecer se ia em excesso de velocidade, se a obra estava sinalizada e se a sua comitiva circulava com os cuidados devidos para com os outros. As regras aplicam-se a todos os cidadãos, aos governantes em particular.
Um governante que circula a 200km/h numa autoestrada, o que só é permitido em emergência e com a devida sinalização, corre enormes riscos de, ao ser surpreendido com imprevistos, não conseguir reagir a tempo: é, portanto, um comportamento negligente e desajustado de um governante. Infelizmente eu próprio já fui ultrapassado na A1 por carros oficiais a alta velocidade, situação que nunca compreendi como é permitida. Por que razão não é obrigado um Ministro a cumprir as regras de trânsito? Por que razão circulam a 200km/h, ou mais, nas suas deslocações? Qual é a emergência?
O Ministro é passageiro, mas o comportamento negligente é de todos: motorista e os passageiros, nomeadamente quando estes são superiores hierárquicos do motorista.
Meter política nisto é totalmente errado. Estamos a falar de irresponsabilidade, negligência e falta de cuidado com os outros. E acima de tudo, estamos a falar da obrigação que um ministro tem de dizer a verdade. O inquérito, que pode demorar 8 meses ou mais, tem de investigar tudo e confirmar a nota pessoal do ministro sobre este caso. É absolutamente impensável que um inquérito desminta um Ministro. Se o fizer, isso significa que o Ministro não é digno de desempenhar funções públicas. Quando o ministro omite, se esconde e não assume as suas responsabilidades, sendo o comunicado dos serviços desmentido pela Brisa e pelas testemunhas, então só tem 2 caminhos: ou esclarece pessoalmente, sob compromisso de honra, ou sai já. Tentar safar-se, ao bom estilo português, é inaceitável. O inquérito está a decorrer, mas não é o inquérito que deve descobrir a verdade, desmentir o MAI, ou, sequer fazer luz sobre o caso, mas antes averiguar os factos e ouvir os intervenientes para ter bem clara a linha do tempo dos acontecimentos, a qual tem de coincidir com a do MAI, pois, repito, é para mim incompreensível que um ministro possa mentir. Se mente, não pode ser ministro.
Em 2012, quando desempenhava funções de Presidente da CCDRC fui a uma sessão pública na Pampilhosa na Serra. Depois disso, tinha uma reunião com o Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional na Presidência do Conselho de Ministros em Lisboa. Quando descia da Pampilhosa para Lisboa, chovia torrencialmente. Avisei várias vezes o meu motorista, que sabia que não estava autorizado a exceder os limites de velocidade, para baixar ainda mais a velocidade, pois, mesmo dentro dos limites, as condições do tempo e da estrada não permitiam circular com segurança. O motorista avisou-me que iríamos chegar atrasados a Lisboa. Por isso, avisei os serviços da PCM sobre um potencial atraso. Na verdade, mesmo a velocidade reduzida chegamos a horas a Lisboa. No entanto, havia uma manifestação da CGTP junto à estação de comboio, pelo que cheguei à PCM com 10 minutos de atraso, tendo avisado, em devido tempo, desse atraso. O Secretário de Estado da pasta que tinha estado comigo na Pampilhosa e saiu ao mesmo tempo que eu da serra, chegou a horas e estava já na mesa da reunião quando eu cheguei. Pedi desculpa pelo atraso, dizendo que eu não corria riscos desnecessários. Tive a seguinte resposta do ministro:
– Se o Ministro está, se também está o Secretário de Estado, o Presidente da CCDRC também tem de estar.
Respondi da mesma forma, reafirmando o meu pedido de desculpas e insistindo que não corria riscos desnecessários para mim e para os outros. Os “mentideros” espalharam que o Presidente da CCDRC tinha feito esperar o Ministro. Conto isto para dizer que não há nada, nem um Ministro, que justifique a irresponsabilidade de circular na estrada colocando-se a si e aos outros em risco. Infelizmente certos servidores do Estado pensam que estão acima dos outros.
 
                            

 
                 
                 
                