Opinião: O fim da liberdade

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A liberdade é, por definição, o espaço intocável da individualidade. A zona de não interferência dos outros, das comunidades, das organizações sociais, do Estado.
O medo é o inimigo da liberdade. O medo da fala, o temor do discurso, desde logo. Onde a pulsão do silêncio significa o evitamento do juízo público, encontramo-nos no limiar de um fascismo social, ainda que disfarçado de piedosa máscara de ética igualitária.
A praga do politicamente correto é a marca mais virulenta, e mais eficaz, deste novo fascismo.
Por esvaziar o conteúdo mínimo da primeira das liberdades, ao lado da liberdade física de movimentos: a liberdade do discurso. E por, desse modo, formatar a opinião a um modelo único de licitude da expressão, determinado por autoinstituídos pastores/censores do rebanho humano.
Pois o politicamente correto é a nova e sofisticada encarnação da censura.
Pelo que não espanta que na fogueira do seu novíssimo Index Librorum Prohibitorum caiam, a título exemplar, as heresias literárias de Mark Twain, Roald Dahl, Enid Blyton e Vladimir Nabokov. Freud, por ora, tem escapado, não se percebendo bem porquê.
A ideologia do politicamente correto, ao instituir o pronto a pensar como única forma lícita de pensamento, justifica-se e legitima-se como polícia do pensamento.
E do pronto a pensar breve se espalha para o pronto a comportar.
No seu admirável mundo novo não há lugar para gordos nem para fumadores de nicotina e de outras substâncias nocivas para a camada de ozono.
Apenas os crentes, ainda que pouco praticantes, dos hábitos saudáveis, dos consumos responsáveis, dos comércios justos, das economias circulares, das agriculturas biológicas, das pegadas ambientais, das inovações sociais e das culturas indígenas têm lugar cativo no paraíso higienizado da adorada mãe Terra.
Para domar e disciplinar os incréus delinquentes a igreja do politicamente correto assume-se, ao lado de polícia do pensamento, como polícia dos costumes.
E assim, devagar, pela calada, pelo facho infernal das boas intenções, vai transformando o mundo da liberdade humana em jaula de submissos autómatos, manequins e marionetas.

Pode ler o artigo de opinião na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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