Tenho o privilégio de viver numa casa de férias. Vista para o mar, duzentos metros até chegar à praia de Buarcos. E por isso habituei-me a ter uma ideia diferente de férias, quebrar a rotina, ver outras paisagens, provar outra gastronomia e sair da minha “casa de férias”. Passar férias no próprio concelho de residência seria estranho, mas possível. Uma casa de campo com vista para os arrozais, um sítio tranquilo e pleno de natureza.
Nessa perspetiva, a procura de uma alternativa à própria casa para passar férias, a oferta é reduzida. Há pouco alojamento turístico fora das praias do concelho. Isto apesar de termos um território muito diversificado, amplo ( 300 km2 ) e pleno de biodiversidade. Ainda estamos longe de perceber todo o potencial do turismo de natureza e preencher a lacuna existente em termos de oferta nessa área.
Compatibilizar a preservação da natureza com a atividade turística é possível, mas exigente. Acredito que a zona das Lagoas de Quiaios possa ser valorizada turisticamente. Por exemplo, pequenos alojamentos inseridos na paisagem, densidade reduzida e com uma visão holística.
Nesse âmbito está tudo por fazer, um plano detalhado para o turismo de natureza não existe. Tal como não há um planeamento para a retirada de infraestruturas que humanizam desnecessariamente a paisagem e causam perturbação à fauna e flora. O excesso de iluminação pública em zonas urbanas e rurais, os postes de eletricidade e comunicações por todo o lado, estradas desnecessárias privilegiando o acesso do automóvel, aumento da densidade arbustiva mitigando o ruído das estradas nacionais, etc.
Renaturalizar a paisagem e criar zonas de proteção exclusiva da fauna e flora, áreas onde a natureza se reproduz sem o ruído das atividades humanas, tornaria a Figueira da Foz um destino mais rico para um público emergente de pessoas que aprecia o convívio com a natureza. Temos condições naturais únicas para criar esse tipo de oferta.