Opinião – Iniciativas Que Contam…. Valorizar a Floresta e Honrar os Bombeiros

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Iniciei este espaço de partilha com a firme convicção que as Iniciativas Que Contam, a que valeria a pena dar eco, não seriam as que invadem as agendas mediáticas e ressoam de comentário em comentário, mas as que na omissão do mediatismo fazem o seu caminho ou aquelas que, nas entrelinhas das notícias, têm um valor que as transcende. Para o bem e para o mal, tenho procurado seguir esse caminho. Olhando para o mundo, para o país e para a região, procuro resistir à tentação de sobrevalorizar assuntos do momento, desviando-me poucas vezes deste princípio e apenas em casos que considerei demasiado importantes ou fraturantes para lhes poder fugir.
Em Portugal, esta semana, por exemplo, são vários os acontecimentos, para além da pandemia, que se desenvolvem em palcos mediáticos que parecem contar. Em Bruxelas, um acordo suado a 27 assegura um envelope financeiro de 57,9 mil milhões de euros para Portugal. No mesmo dia, em Lisboa, é apresentada uma “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030”.
A primeira iniciativa corresponde ao primado da esperança numa Europa que nasceu solidária e que só solidária poderá vingar. Uma Europa cuja solidariedade pressupõe compromisso e rigor na gestão de recursos onde, no final das negociações, a introdução de um novo mecanismo de controlo da aplicação das verbas pelo Conselho Europeu é disso sinal. Já a apresentação – da segunda edição, num mês – de uma “visão para a recuperação” não é, mesmo para alguém como eu que acredita na importância da visão estratégica no desenvolvimento de um país, uma iniciativa que conte. Por muito valor que tenham as pessoas envolvidas, e têm-no inquestionavelmente, não é fácil acreditar numa visão para um país desenhada durante um mês, por um administrador de uma petrolífera, em acumulação e pro-bono, que não assenta em fundamentos objetivos, ou pelo menos explicitados, cuja sustentação na realidade portuguesa é no mínimo discutível, que não tem o contributo de responsáveis públicos, e que se apresenta sob a forma de um leque de muitas e variadas ideias onde falta a seguir “fazer escolhas, definir prioridades, alocar recursos, pôr a máquina a trabalhar”. Se assim é, o que vem a seguir é que pode contar.
Mas esta foi também a semana em que dois bombeiros voluntários morreram em missão na defesa da floresta e das populações rurais: o José Augusto Fernandes de Miranda do Corvo e o Filipe André Pedrosa de Leiria. Foi a semana em que o país esteve vários dias em situação de alerta pelo risco de incêndio rural, com dez distritos em nível vermelho e os restantes laranja. E, ainda que as estatísticas revelem que os 2.143 incêndios e os 3.936 hectares de área ardida este ano representam menos 60% do que em 2019, ainda assim, são iniciativas que verdadeiramente contam todas aquelas que valorizam a floresta, e quem a protege, enquanto ativo nacional insubstituível.
Num tempo em que as associações humanitárias de bombeiros registam quebras de receita de 50% a 80% e em que atividades agora reduzidas, como o transporte de doentes, implicam custos adicionais de proteção individual; num tempo em que o Estado deve dezenas de milhões de euros por serviços prestados e em que não paga o equipamento de proteção individual para combate nos incêndios a todos os bombeiros; num tempo como este, a criação de um fundo extraordinário de apoio às Associações Humanitárias de Bombeiros, na passada semana no Parlamento, foi essa sim uma iniciativa que conta.
Em outubro de 2017, no rescaldo de 100 mortes, Marcelo Rebelo de Sousa dizia que “O Presidente da República pode e deve dizer que esta é a última oportunidade para levarmos a sério a floresta e a convertermos em prioridade nacional. Com meios para tanto, senão será uma frustração nacional. Se houver margens orçamentais, que se dê prioridade à floresta e à prevenção dos fogos.”
Ninguém duvida que a Floresta aparecerá em todos os discursos, visões ou políticas anunciadas como uma “fileira estratégica” … mas aquilo que nos é exigido, pelas populações de espaços rurais, pelos soldados da paz, seus familiares e pela memória dos que caíram em combate, é mais! É-nos exigido que saibamos honrar esta prioridade nacional com iniciativas que efetivamente contem. É-nos exigido que saibamos valorizar aqueles que arriscam a sua vida a defender o património coletivo. É-nos exigido que, com inteligência, façamos escolhas que evitem a frustração nacional.

(para partilha de informações ou comentários pf escreva para: iniciativasquecontam@gmail.com)

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