Numa cidade marcada pela academia, como Coimbra, é comum o aparecimento de textos públicos que reúnem um conjunto de subscritores para dar força a intenções programáticas. Quer sobre a égide da discussão literária, de que a polémica “Questão Coimbrã” é exemplo, ( 1865 ); da saudável reivindicação estudantil ou da afirmação de novas comunidades, inúmeros textos marcaram atualidade e agenda. Estes manifestos contaram e continuam a contar pelo seu teor ou simplesmente pelo que simbolicamente representam.
Vem isto a propósito do “Manifesto Económico do Grupo de Coimbra” apresentado há poucas semanas por um conjunto de 42 empresários. A proposta, com “15 Medidas Públicas para Coimbra 2030” – no âmbito da consulta pública da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, ontem apresentado na sua versão final – sustenta que as empresas da região de Coimbra “têm condições únicas para participar do esforço nacional de relançamento económico”.
O contexto deste manifesto é conhecido. Não escondo o fraco entusiasmo que sinto pelo Plano de António Costa e Silva: um plano onde tudo é “crucial”, nada é fundamentado e o modo como se atingem os objetivos está ausente.
Mas a verdade é que, sendo este o documento enquadrador da estratégia do Governo, é um ato importante de cidadania, em sede de consulta pública, apresentar ideias, fazer críticas e sugestões. Se é verdade que vivemos um contexto autárquico pré-eleitoral que incentiva à tomada de posições públicas, também é verdade que a grave crise económica provocada pela pandemia nos impele a agir e a contribuir para a melhoria do futuro de todos.
O Manifesto do Grupo de Coimbra surge assim como uma Iniciativa que Conta por três ordens de razões. A primeira prende-se, como vimos, com o contexto exigente de pensamento, de colaboração e de ação, a cujo estímulo o manifesto claramente responde O contexto do manifesto é conhecido e impele à participação cívica e ao compromisso.
A segunda razão prende-se com os atores: empresários e dirigentes que de um modo inconformado se pronunciam. Estes, que convivem com o risco e a incerteza, agora acrescidos, organizaram-se para fazer chegar a sua voz a um Plano onde Coimbra está praticamente omissa. É verdade que todos desejaríamos ter 42 vezes 42 empresários a clamar. É verdade que a Carla, a Cláudia e a Luísa são três honrosas lutadoras num mundo “de poder” que continua eminentemente masculino. Mas a verdade que aqui sobressai é a de que são estes empresários, homens e mulheres, quem com os seus sonhos e espírito lutador criam dinâmicas geradoras de “empregos e valor económico, social e cultural para o País”.
A terceira e última razão porque o Manifesto é uma Iniciativa que Conta prende-se com as 15 Ideias que defende e que reclamam um olhar diferente relativamente a Coimbra. Seja nas tradicionais questões da ferrovia, concretizadas em três medidas e fator de acessibilidade e de otimização económica da região; seja nos investimentos públicos, do SNS às infraestruturas; seja, em particular, em estímulos à economia que poderão determinar um novo desenvolvimento da cidade, o que está em causa são “projetos de reequilíbrio e coesão regional do País”.
Algumas das ideias, como a área metropolitana de Coimbra, podem não ter a força para se transformarem em realidade, nem mesmo serem desejáveis… mas terão a força de ser manchete e nesse sentido serão inspiradoras de gentes e de jovens com energias renovadas que não queremos que desistam.
Recordo a entrevista feita em 1995, por Daniel Morrow (Diretor executivo do Computer World Honors Program), a Steve Jobs, quando pergunta: “Quais são os fatores de sucesso para os jovens de hoje?” Ao que Steve Jobs respondeu: “Estou convencido de que o que separa os empresários bem-sucedidos dos que o não são é pura perseverança.”
Desejemos que os empresários perseverantes de Coimbra nunca calem a sua voz. Porque a sua voz Conta.
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