Opinião: Um país brilhante, mas cada vez mais às escuras

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Há temas importantes, e outros triviais. Analisar o que tem levado Portugal a decair, até ser um dos Estados-Membros mais atrasados da União Europeia, é importante. Mas não é sobre as razões do declínio económico nacional que escrevo hoje, mas de outro assunto muito mais banal, mas também relevante. Como há muita gente a dizer que a falta de luz é cada vez maior neste país, observemos o tema da iluminação. Não da natural, mas da elétrica, num país em que a EDP, empresa concessionária de iluminação pública, vem perdendo muito do antigo fulgor.
Talvez saiba que quando alguém cumpre o dever cívico de alertar a empresa que, por contrato com o Estado, deve garantir que a iluminação pública cumpra a função elementar de iluminar os caminhos do nosso povo, aumentando níveis de segurança cada vez mais ameaçados por uma crescente criminalidade, começa por ter de responder telefonicamente a um demorado e rigoroso inquérito computorizado, que, entre muitos outros pormenores, inquire se esse cidadão verificou se o poste de iluminação tem ou não distintivo ou autocolante da EDP, e se é caso isolado ou não. E se o cidadão responder que sim a esta última questão, sem mais, a EDP logo o informa de que, face às atuais políticas autárquicas de eficiência energética, há candeeiros desligados, pelo que não pode aceitar a reclamação (!), e abusivamente, dá fim à comunicação.
Ora a EDP deveria diferenciar reclamações de “avisos populares” sobre deficiências de serviços públicos de energia. E como qualquer luminária se funde e deteriora, uma empresa iluminada não ordenaria que estes casos fossem tratados como sendo todos de “eficiência energética”, nem que se desligue o telemóvel a quem relatar eventuais falhas de iluminação pública. No mínimo, um operador humano deveria clarificar situações que, com este modo insólito de operar, nem ficarão registadas. Mas é esta a conceção de serviço público, da empresa que (ainda) é sino lusa.
Mas as falhas são inúmeras. Vejamos dois casos reais. Na Figueira da Foz, a Junta de Freguesia de Quiaios disse a um munícipe idoso, que sempre residiu na Murtinheira, e que há muito tempo participara à EDP uma lâmpada fundida, que a EDP demora vários meses a repor a iluminação pública avariada! Pelo que há muitos idosos, e muitas outras pessoas, que andam às escuras por becos e caminhos, embora paguem agora mais impostos do que alguma vez pagaram dantes.
O outro caso respeita a uma luminária danificada em Coimbra, no parque de skate da Sólum, que há mais de um ano aguarda por reparação, apesar de haver riscos, devidos à presença de jovens e crianças. A EDP até disse a quem a avisou por diversas vezes, que a Câmara não cedeu o material para a consertar! Certo é que ainda nenhuma das entidades corrigiu um dano vulgar, mas que pode afetar a segurança de pessoas (e o mesmo acontece ao longo do país, com postes e caixas elétricas em mau estado de conservação). Mas os lucros da EDP, embora menores, são sonantes, e com tantas taxas, as finanças municipais crescem bem mais do que cresciam outrora.
Num país em que este governo criou não só um, mas dois “simplexes”, parecem faltar ideias simples que assegurem serviços públicos essenciais. São casos como os descritos que mostram desleixo e desconsideração pelos utentes de serviços públicos, o que se deve a governos que não acautelam devidamente a qualidade de serviços subcontratados, e à inércia e desinteresse de entidades reguladoras que devem vigiar empresas concessionárias e mercados regulados.
Além de que também municípios e comunidades intermunicipais não devem alhear-se do que acontece nos seus territórios, e devem defender os direitos dos seus cidadãos, nem que para isto tenham de afastar gente incompetente, lutar contra interesses instalados e evitar despudores económicos.

Notícia completa na edição impressa de hoje

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