Opinião: Três anos. Da bravata(*) à irrelevância

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Há 3 anos, o Município de Coimbra, pela voz do seu Presidente Machado e do seu Vereador Queirós, anunciou, em plena sessão pública da Câmara, que iria iniciar por meios próprios a política de esterilização de animais de rua e que, dentro de 60 dias, celebraria acordos com as várias associações de bem-estar animal do Concelho.

Volvidos os 3 anos, em que ponto está a política de proteção animal em Coimbra? Os dados agora publicados do Relatório de Gestão da Câmara no ano de 2017 são muito expressivos e vale a pena olhar para eles.

Estima-se que haja no Concelho de Coimbra cerca de 30 000 animais de companhia (cães e gatos), dos quais metade serão animais residentes em casa dos donos e outros tantos na rua. Por falta das políticas de controlo de natalidade, designadamente esterilização, uns e outros procriam sem cessar, alimentando uma torrente de animais para a rua que cresce de ano para ano.

Mas, primeira estranheza: o serviço público que tem a responsabilidade de resolver esse problema, diminuiu, em cinco anos, para menos de metade o número de animais de que se ocupa. Os números de 2017 são mesmo inferiores aos de animais recolhidos e tratados pelas associações cívicas que se dedicam ao bem-estar animal Grupo Gatos Urbanos e Agir pelos Animais.

PRIMEIRA CONCLUSÃO: temos uma administração pública local que, continuando a consumir recursos públicos consideráveis, não só não substituiu as associações cívicas, como hoje trabalha bem menos do que estas.

Segunda estranheza: um serviço que não faz socorro de animais feridos ou doentes nem tratamentos veterinários, antes remete sistematicamente para as associações os pedidos de socorro dos cidadãos e das forças de segurança, por que razão continua a ter taxas de mortalidade tão elevadas (dois em cada 5 )?

SEGUNDA CONCLUSÃO: o elevado número de animais que são abatidos ou morrem no canil/gatil deve-se sobretudo à errada política de captura e confinamento de animais assilvestrados, bem como às más condições de clausura. É o triste preço de um serviço direcionado para satisfazer aqueles que requerem a remoção de animais, e não para o bem-estar dos mesmos,

Apresentada há 3 anos como a grande coroa de glória da política camarária, vê-se como o entusiasmo foi de pouca dura: o número de adoções desceu quase para os níveis de 2012, também aqui muito abaixo do que as associações conseguem pelos seus próprios meios e esforços cívicos.

TERCEIRA CONCLUSÃO: é ilusório pensar que o número de adotantes cresce de forma contínua, muito menos proporcional ao crescimento do número de animais. Não há adotantes para todos. Logo, é preciso agir sobre a sobrepopulação, diminuindo a natalidade.

Pois é. Mas a segunda coroa de glória murchou ainda mais que a primeira. O número de esterilizações feitas pelo serviço médico veterinário é absolutamente irrelevante para as necessidades do Município.

QUARTA CONCLUSÃO: a bravata municipal de que estava em condições de fazer tudo pelos seus próprios meios resultou numa triste constatação. O serviço médico-veterinário do Município de Coimbra não só não responde às necessidades das pessoas que a ele recorrem como se tornou irrelevante para a dimensão das missões que deveria cumprir. Dito de outra maneira: nem faz, nem apoia quem faz. Para que serve, então?

(*) Bravata é sinónimo de fanfarronice, afirmação destituída de sentido, de força que se não tem

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