Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes descobriu que é possível a manipulação de uma determinada molécula para levar as células a andar para trás no tempo – passando de adultas, já especializadas e diferenciadas como as da pele, do coração ou do cérebro, para células semelhantes às dos embriões, com a extraordinária capacidade de se tornarem qualquer tecido do corpo: ou seja, uma espécie de máquina do tempo biológica que possibilitará o regresso a um passado distante das células, quando estavam numa fase inicial de desenvolvimento embrionário, para reparar e regenerar, por exemplo, zonas do cérebro responsáveis por doenças neurodegenerativas como a Parkinson, ou células do coração para aí reparar tecidos.

Extrapolando (de tirar uma conclusão com base em dados reduzidos ou limitados mas tentando não exceder os limites do bom senso), apetece-me divagar, propondo um exercício semelhante para a resolução dos principais problemas com que se defronta o poder local, a saber: limitada autonomia (em relação quer ao poder central quer a forças nem sempre facilmente identificáveis); reduzida participação dos cidadãos no acompanhamento do exercício do poder; insuficiente afirmação e construção da cidadania (que aqui deveria ter um espaço privilegiado para a resolução de problemas e para a elevação das condições de vida das pessoas); muito menor informação do que propaganda; pouca proximidade e acessibilidade. Em que ponto começaram as células a ficar doentes?