Opinião – À Mesa com Portugal

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Ao contrário do que muito que se afirma e se discute por aí, Coimbra é uma grande cidade. Não interessa se outras universidades ganharam projeção e souberam criar maiores laços com o mundo do trabalho e da investigação. Não interessa se a indústria que orgulhosamente rodeava os subúrbios de Coimbra desapareceu. Não interessa se Coimbra deixou de ter condições atrativas para as famílias aqui se instalarem. Interessa o futuro. E o futuro de Coimbra poderia fazer-se de forma mais consistente e coerente se se percebesse que a força de Coimbra é a força da região que a rodeia. Não há nada pior que é a lógica instalada de que a árvore que cresce porque suga toda a água em seu redor e estica os ramos em direção ao sol é a árvore maior do jardim. Porque não olhar à volta e fazer da força da região a força da cidade de todos nós?

Falar disto numa crónica de gastronomia até parece artigo de reivindicação política, mas será seguramente crónica de reivindicação social, porque Coimbra merece, não o silêncio desajustado e sossegado de todos nós e o comodismo de acharmos que fazemos o suficiente quando fazemos a nossa açãozinha local, mas merece olharmos o que nos rodeia e criarmos os laços necessários para levar por diante o futuro de uma cidade que merece o melhor de nós, pois sempre nos recebeu. Na educação, na saúde, no lazer, no trabalho, Coimbra sempre nos recebeu.

Ocorre-me falar disto pois custa-me o silêncio e as costas voltadas entre tanto produto de qualidade que, afinal, também identifica Coimbra. O Bolo de Ançã, os Pastéis de Lorvão, as Nevadas de Penacova, os Pastéis de Tentúgal, as Queijadas de Pereira, o Leitão à Bairrada, a Chanfana de Miranda do Corvo, o Queijo do Rabaçal, o Cabrito da Serra da Lousã, o Arroz Carolino do Baixo Mondego, os Vinhos da Bairrada. Somos Mondego, seguimos a linha do Mondego, mas esquecemos o Mondego que nos une. Coimbra, território maior do Mondego, esquece que a sua força pode vir da região que está a sua volta. É certo que poderemos vir a descobrir o que se comia em Coimbra e perceber que Coimbra tem um receituário de referência que não tenha vindo da zona rural à volta de Coimbra. Mas o que seria de Coimbra sem a chanfana vinda da Serra? E sem o leitão vindo da Bairrada? E sem o arroz vindo do Baixo Mondego? E sem os doces vindos dos Mosteiros do Mondego e da tradição popular rural? Ainda que sem investigação apurada sobre o que pode ser o receituário de Coimbra, atrevo-me a dizer que Coimbra ficava despida de sabor, ficava pobre na mesa.

Olhar à volta e perceber o valor dos outros não nos diminui, antes acrescenta, multiplica, soma. Olhar a força da região de Coimbra e usá-la nunca será motivo de divisão, antes de união. De nada serve terem sido criadas estruturas de agregação territorial se depois a disputa orçamental continua pelo que se faz em cada uma das terrinhas. A lógica tem de ser invertida, pois a força de Coimbra é a força da região que a envolve. Imaginem o festim que faríamos se juntássemos toda a gastronomia da Região! Celebrar Coimbra pelo melhor que ela tem.

 

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