Opinião: Incêndios para sempre

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Aires Antunes Diniz

Desde sempre os incêndios foram notícia assim como as revoltas, incluindo as estudantis, de facto, enquanto a revista Brasil Portugal relatava que “em Coimbra, por exemplo, a polícia invadiu a Universidade, invasão que lhe fora defesa pelo regulamento da casa e com o qual encavacaram solenemente os rapazes e alguns lentes” também na Rua da Madalena em Lisboa “onze desgraçados moradores surpreendidos pelo fogo às duas da madrugada, foram devorados pelas chamas e soterrados nos escombros”.

Estranhamente, quando agora temos por todo o lado bombeiros e muita tecnologia apropriada para impedir incêndios, há fogos descontrolados, que tornam por quase todo o lado as nossas vidas inseguras e o ar continuadamente irrespirável. Continuamos também a ter incêndios no espaço urbano e mais ainda em espaço rural, tornando difíceis as vidas dos que restam nas aldeias e pequenos lugares. Tornaram também mais difícil, e até impossível, as vidas dos industriais e dos seus trabalhadores em muitos parques industriais que, surpreendentemente, não estavam preparados para o seu surgimento. Há agora por isso planos de reposição da sua capacidade produtiva.

Emergem por isso críticas ao Governo atual e ninguém parece lembrar-se do que fizeram ou desfizeram os governos anteriores. Ninguém parece conhecer como o nosso país foi sendo desertificado e, mais ainda, como muitas medidas avulsas e ou concertadas impediram que a gente que falta no campo aí pudesse ganhar a vida.

Ninguém parece ser capaz de ver que algumas medidas que logo saltam à vista como a limpeza da floresta são impraticáveis por já não haver gente no Interior. Ironizam por isso alguns com estes opinadores apressados, dizendo-os limitados ao pensamento de que a limpeza se faz “com a pazinha e a vassoura com que se limpam os jardins”. Trata-se de algo que os idosos mesmo alquebrados podem sempre fazer como o pensam os citadinos retratados Carlos Daniel no Jornal do Fundão de 2 de Novembro de 2017, p. 40.

E toda a tontice sobre esta realidade trágica podia ser afastada e devia levar-nos a pensar a sério sobre os problemas da floresta. Aconteceria se começássemos logo por pensar que esta deve ser plantada de acordo com as leis científicas, acautelando desde logo a escolha das espécies adequadas ao ecossistema em que são plantadas e à necessidade de impedir a propagação dos fogos.

Tudo nos leva a propor que, agora que se quer refazer/repor o sistema produtivo se pense cientificamente sobre o modo de o fazer e se (re)construa uma organização de proteção contra os incêndios com peso e medida assente na competência real dos seus agentes. Pois só assim podemos acreditar que a desgraça deste verão não volta a acontecer.

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