Opinião: Festivais de verão, retratos do país real!

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Gil Patrão

Em tempo de férias, Portugal resplandece! Por todo o país há festas diárias para todos os gostos, animadas ao som de bandas, filarmónicas, conjuntos e cantores que abundam entre nós. E como estes já nem chegam para as encomendas, importamos durante os verões escaldantes,“DJ´s, rock & rap stars” de maior ou menor nomeada, que ajudam a encher de público, das mais diversas idades, tantos dos pavilhões e campos de futebol desocupados que há um pouco por todo o lado.
As cálidas noites estivais animam um país que sempre teve forte pendor para feiras e romarias, mostrando que o dito gaulês “comme les portugais sont gais” sintetiza uma das caraterísticas distintivas de uma nação cuja cultura popular continua arreigada aos seus valores tradicionais mais profundos. Nestas festas, a receita é simples, mas muito eficaz! Além da música, têm de haver distrações que ajudem a compor as finanças das autarquias com as mais diversas taxas e taxinhas, e tascas e tasquinhas que vendam farturas, petiscos e modernaça “street-food & shots”, cervejolas, ginjinhas e tudo o mais que antes, durante e depois das mais gritantes e entusiásticas atuações de todo o tipo de artistas, dispõem ainda melhor um povo bom, e que já por si é alegre.
Animam-se os arraiais, enchendo-se o interior ostracizado de uma balbúrdia que faz lembrar o país de outrora, em que pão e chouriço faziam companhia à broa com sardinhas e tinto do pipo, enquanto os bolinhos de bacalhau sempre acompanharam melhor com um branco adamado ou um verde fresquinho, acabadinho de tirar, borbulhante, do tonel, com a ajuda de um funil. Nesse tempo, ainda não havia “asais” que fizessem os comerciantes ambulantes darem “ais” de dor, pelas coimas que hoje em dia enchem um pouco mais os cofres vazios do ministro das finanças!
Mas se dantes as festas eram locais, hoje a animação tem foros internacionais, vindo os foliões nos mais reluzentes automóveis e soberbas motas. Claro que, nas festas de maior nomeada, para estacionar não chegam os parques improvisados, pelo que ruas e estradas ficam bordejadas das mais diversas viaturas, vindas de tão estranhos lugares que as placas de matrícula permitem perceber, no mais recôndito lugar deste tão belo país, a vera e vasta dimensão da diáspora lusa…
Mas é quando entramos nos recintos das festas e dos festivais que se vê o seu encanto, e a razão de atraírem tantos visitantes. Se o barulho dos carrosséis, e de tantas outras diversões populares, é audível muito ao longe, só ao perto é que se sente o imenso poder que têm os mais descontrolados decibéis, debitados por potentes altifalantes que fazem os corpos vibrar ao som bem compassado de músicas, pimba ou não, mas que todas elas encantam quem tem a felicidade de se alegrar com espetáculos simples, que avivam o caráter afável do nosso bom povo lusitano.
Este ano, o país evidencia um bem-estar e uma afetividade como há muito não se viam, apesar das desgraças havidas, que mostraram facetas marcantes dos portugueses, como o altruísmo e o espírito de entreajuda, e que mobilizaram a nação em prol dos que sofrem na pele as perdas de bens e vidas. Se a capacidade de mobilização deste povo é exemplar, é a sua capacidade de dar que mostra o que de melhor tem a alma lusa. Um povo que ri, canta e dança com alegria, mas que quando é mais necessário, é solidário! Há outros povos que podem ser até mais “evoluídos”, mas que não sentem a dor dos outros, como se fosse sua. Talvez seja por isso, que Portugal está na moda, num mundo que é cada vez mais igual, na desigualdade que nos separa uns dos outros!

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