Com a doença de Mário Soares, veio-me à lembrança um conjunto de personalidades que cedo se “despediram” da democracia portuguesa.
Álvaro Cunhal e Sá Carneiro que infelizmente já partiram, mas que nos legaram um testemunho imenso de coerência e seriedade intelectual, com Mário Soares e Freitas do Amaral “armaram” dos melhores debates da política portuguesa.
Tenho para mim que milhões de portugueses se acotovelavam, à direita e à esquerda, para assistir aos argumentos mais conseguidos.
Foi numa época em que a construção de uma sociedade livre e democrática teve alguns sobressaltos, é certo, com dificuldades de relacionamento, mais do que certo, mas a figura ímpar de Mário Soares sempre se conseguiu impor pela palavra, a todas as tentativas de rebelião anti liberdade.
A liberdade é um valor a defender. Mesmo aqueles que não a entendem como valor supremo do homem, dela deverão usufruir. Porque a seu tempo, quando crescem, quando amadurecem para vida, a experiência ensina que nenhum homem é diferente do seu semelhante.
Pois bem.
Hoje, invocando esses homens de antanho, o seu trabalho, a sua coerência, o seu espírito de sacrifício e solidário, deveremos olhar para Portugal com duríssimo sentido crítico.
Todos deles herdámos diferenças, mas na igualdade de tratamento, na defesa da saúde, da justiça, da educação e da justiça social. Nunca por nunca, nenhum deles se atreveu a colocar em causa os princípios basilares dos direitos e deveres de cada cidadão.
A doença de Mário Soares espevita-me o orgulho de, apesar de bastas vezes ter estado contra ele enquanto militante socialista, mas também e não menos vezes, tentar segui-lo no que tinha de mais puro.
A sua amizade por Diogo Freitas do Amaral e Adriano Moreira é um sinal claro do que pretendia da sociedade portuguesa. Um
País que é de todos, porque todos dependemos de todos.
A Europa está a perder as sua melhores referências e a atolar-se em algo inimaginável num futuro próximo, se não emergir alguém com a sua têmpera.
Hoje, hoje mesmo, poucos lhes seguem o caminho. Ouvem-nos, abanam afirmativamente a cabeça, mas logo, mesmo logo, estão a fazer o contrário.
Queiram ou não, se Mário Soares não sobreviver – e teria de escrever isto em vida – e a vida prega sempre partidas, foi o homem que mais marcou a sociedade portuguesa.
Independentemente de se gostar do estilo, será sempre, com muitos outros, um grande lutador pela liberdade.
Bastaria ter escutado a declaração de António Guterres perante o Mundo, para saber que também ele, bebeu muito dos seus ensinamentos, porque o seu caminho confunde-se com Portugal e com os portugueses.
Portugal honrará sempre os seus melhores!