Opinião – Sem ofender

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Aires DinizAires Antunes Diniz

Numa noite de chuva intensa, uma estação de caminho-de-ferro desconfortável, uma mulher jovem e bela que parece muito cansada, numa cidade à beira rio ao fim de um dia cheio de algazarra e de alegria possível, entretenho-me a pensar sobre estes jovens que parecem despreocupados. Preocupam-me pois sou pai, professor e economista e tudo o que é humano não me é estranho.

Meto-me por isso com a jovem que parece sonolenta, brincando com o cansaço natural de uma noite de farra. E ela diz-me que é espanhola, filha de pai basco e mãe salmantina, vizinha do Tormes, rio irmão deste Mondego, que nos está próximo. Talvez Ribeiro Sanches tenha pensado aí, que “se alguma vila ou cidade tem a fortuna de ficar isenta das inundações, seria a mais bem situada a que estivesse virada para o Oriente e Sul, como está Coimbra, e o rio ficasse do mesmo lado. Os ventos Norte e do Oriente dissipariam os vapores dela sem jamais ofenderem gravemente os habitantes” .

Conta-me que trabalha desde os vinte anos, paga um piso, ou seja um andar desde há oito pois tinha um emprego certo, que a crise destruiu e agora está desempregada. Só o marido trabalha e ela recusou esta semana três empregos onde receberia menos do que o subsídio de desemprego, que um dia destes acaba, mas chega para pagar a prestação do apartamento que comprou. Contudo, ao conversarmos sabemos como o capitalismo ibérico está sintonizado para empobrecer os povos da península. Sabemos também como tudo é demasiado igual para ser fruto do acaso.

Tudo resulta, como sabemos de uma lógica perversa uma vez que não segue nenhuma teoria económica confirmável pelos factos preditos, como se verifica com os erros sistemáticos dos governos espanhóis e portugueses. Como diria Karl Popper trata-se de uma teoria dogmática e, por isso, não científica.

Complicando tudo, o governo espanhol acusa os críticos que se manifestam nas ruas de terroristas. Queixa-se a mulher que fala comigo.

Recordo que há quase um ano passei por várias cidades espanholas, sentindo a exasperação do seu povo e a vontade de alguns tomarem medidas mais radicais.

Entretanto, em Portugal, contra toda a prática democrática, o governo proíbe a passagem prevista a pé da ponte 25 de Abril quando o tem permitido sistematicamente para diversos eventos desportivos. Procura só dificultar a expressão da revolta popular nas ruas. Continua o que é prática neste tempo em que a política económica capitalista mostra os seus “shutdowns”, como o evidenciou a paragem recente do governo norte-americano, que é o resultado da luta entre democratas e republicanos, procurando estes fazer com que os ricos não paguem impostos. Mas, este jogo falso está destinado ao fracasso, tendo logo depois o fiscal cliff, o penhasco fiscal.

Não o deixemos destruir as nossas vidas.

 

1 ) António Nunes Ribeiro Sanches – Dos sítios mais sadios para fundar cidades, extrato do «Tratado da conservação da saúde dos povos», Edição do Instituto Pasteur de Lisboa, s/data, p. 7.

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