Opinião – Desertificadas porquê?

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Andando pelo eucaliptal, sentimos o vazio criado pelo maremoto de chamas avassaladoras que arrasaram o mar de verde que ainda há pouco tempo existia. Era então atração, que fazia vir muitos homens e mulheres do norte da Europa para aqui respirarem ar puro, enquanto percorriam boas estradas, mas que estão agora vazias por já nada haver que as torne belas e saudáveis. Ficaram agora esvaziadas por:

“Só quando as amenas margens do Tejo e Mondego, e as planícies do Alentejo e de Castelo Branco não foram suficientes para conterem uma população exuberante, e dar pasto aos inumeráveis gados desses povos, geralmente pastores, ou quando as guerras de extermínio obrigaram os povos a procurarem lugar de refúgio, é que seguramente o vale de Oleiros foi pela primeira vez visitado pelo homem” ( 1 ).

Agora estranhas “guerras de extermínio” obrigam os homens a abandonar estes lugares e a irem para outros. São estes aqueles para onde o neoliberalismo como teoria económica e ideia insensata os guia. E muitos comentadores e sábios da treta a acompanham com palavras que dizem que tudo é inevitável.

Assim territórios imensos tornam-se inabitados e consequentemente sem capacidade de resistir a fogos, que parecem, até, maremotos de fogo sem qualquer hipótese de serem detidos no seu caminhar infernal.

Seguem-se batalhas de palavras em que no fim não há culpados nem negligências. Só há azar e esperanças de chuva e essa até veio. E só isso agradecemos. O governo apenas exigiu que os proprietários ainda vivos limpassem terrenos. Mais nada fez. Nem sequer preparou uns Kamovs para o próximo combate contra o fogo. Nem sequer pensou em limpar os terrenos cheios de árvores ardidas, tornando a paisagem mais atrativa para quem quiser viajar em territórios selvagens e solitários que convidem à reflexão.

E a reflexão será sempre sobre a terrível insensatez das teorias abstrusas, que gente bem-falante e melhor-escrevente propagou, foram os que desta forma nos foram anestesiando sobre as consequências de teorias que justificavam o abandono das terras.

O resultado foi o avançar acelerado do deserto que era “refúgio” e que agora é território de desespero e de lágrimas. Perdeu-se assim o resultado do trabalho inteligente de muitas gerações, que valorizaram estas terras e as transformaram em florestas, olivais e prados que as alimentavam e eram o seu sustento.

Estamos agora todos convocados para o trabalho de desmistificar ideológica e cientificamente todas estas ideias organizadas em teorias, mas que não são mais que tretas para enganar papalvos.

São as que bem-falantes e melhor-escreventes proclamam e com as quais nos vão enganando. E como fazemos a todos os vigaristas, digamos-lhes que já sabemos o que querem. Passemos-lhe por isso ao lado.

( 1 ) Pimentel, João Maria Pereira de Amaral – Memórias da Villa de Oleiros e do seu concelho, Typographia da Virgem Immaculada, Angra do Heroísmo, 1881, p. 38.

 

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