Opinião – Um árbitro sem apito

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Gil Patrão

Gil Patrão

Qualquer competição, para atrair público, carece de ter concorrentes. Se com dois pode haver luta ou combate, quando as contendas envolvem muitos rivais e mais que duas equipas poderão haver torneios, a sério ou a fingir.

Em todas são cruciais árbitros que vigiem as regras do jogo, mantenham pelejas e contendores nos seus lugares e punam exemplarmente quem se ponha fora das linhas de conduta que balizam as disputas. Tal também acontece, nos jogos da alta política.

A política é jogo singular em que quem ganha (nem sempre…) será poder e que nunca tem vencidos. Verdade que por cá nem há torneios empolgantes, por parcos contendores e de fraca qualidade travarem entre si lutas insípidas em desapontantes combates, que nem fazem subir a adrenalina a quem a eles assiste, o que conduz a um desinteresse crescente, atraindo tais pelejas cada vez menos gente… Como no último jogo, que só cativou pouco mais de metade do povo!

Aproxima-se refrega a travar entre candidatos a árbitro de pelejas políticas que, de tão aborrecidas, adormecem o povo. Contudo, fraco poder tem quem arbitra tão espúrias disputas, por falta de equipamento capaz, que nem apito tem para marcar faltas e sinalizar foras de jogo. Quem terá mão que mostre o amarelo a quem se exceder em falta democrática e desrespeitar o povo? E qual será capaz de exibir o vermelho a quem se desviar de políticas de rigor, contenção e verdade, que retirem do atoleiro a quem assiste, sem vaiar, aos combates e golpadas políticas?

Mesmo que o regime vigente – que é assaz democrático – não seja propício ao exercício de maior arbitragem, devia haver árbitros capazes de, mesmo sem apito, interferirem nos conflitos políticos. Sendo de evitar muitas interferências e sem desrespeitar a democracia, ocasiões há em que quem assim arbitrasse afastaria piores males, preservando o bem-estar do nosso povo!

Ainda sem ser hora de lide, já há muitos aspirantes a árbitro! Logo veremos quem no final irá a jogo; é que os interesses políticos fazem surgir muitos mais candidatos do que seria previsível ocorresse! Sendo os interesses não só políticos e muito mais do que parecem, surgem contendores que assumem protagonismos, arranjos e combinações que, mesmo sem baralharem o jogo, permitem aos mais astutos ocuparem as melhores posições na grelha da partida. Sem esquecer que, já na pista da contenda, há sempre umas quantas lebres, lançadas na corrida para que haja quem galgue os últimos metros e com alarido e estardalhaço, corte em primeiro a meta!

Toda esta agitação resulta de, mesmo sem equipamento capaz, haver benesses para quem vencer a disputa. Decerto um lugar na história, mesmo que nem haja grandes histórias para contar do mandato. E por certo gordas e vitalícias mordomias e palácios para viver, além de numerosos lugares de assessores, secretárias pessoais e pessoal das casas civil e militar a repartir entre os mais fiéis seguidores do supremo ganhador, que passará então a presidir aos destinos da nação.

Mas não é a política festa rija, das que o povo diz de arromba e eleição? Por isso, e mesmo sem questionar o modelo semipresidencialista em vigor e debater os poderes do supremo magistrado da nação, lá se vai cumprindo este santo ofício! Prova da esperteza popular é que quem ganha a primeira contenda, tem (até agora) assegurado segunda vitória. Sempre poupamos uns cêntimos, já que nem tostões temos. Aspeto a considerar por quem sabe que, apesar de tantas promessas e pelejas políticas, acaba sempre depenado, seja quem for que governe, seja quem for que arbitre!

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