Opinião – Esperança que se aniquila

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AIRES ANTUNES DINIS novoAires Antunes Diniz

Há poucos dias, preocupados com as suas vidas, bolseiros e investigadores protestaram na rua e não foram os únicos que se revoltaram contra o Orçamento de Estado de 2014. De facto, o governo esqueceu-se de algo que já se sabe há muito e que era valorizado em Coimbra em 1918, quando se procurava na sua Universidade a esperança possível para um pós-guerra que, pacientemente esperava enquanto alguém escrevia: “Um amigo de Coimbra – e bem ilustre, por sinal – o Snr. Dr. Costa Lobo, há pouco tempo ainda, defendeu um projeto de melhoramentos económicos que a transformariam”1.

Devia agora o Governo ter uma estratégia científica e, ainda, uma forma de avaliação dos resultados da investigação financiada, que permitisse aferir da qualidade e da produtividade dos recursos nacionais aplicados. Infelizmente, sei, por experiência própria, como têm sido desbaratados fundos públicos em gente que nunca publicou uma linha do que supostamente investigou. Entretanto, outros, bem mais esforçados, foram preteridos nas suas candidaturas. Sei também que alguns foram impedidos de prosseguirem carreiras científicas promissoras por não terem quem os defendesse.

Na verdade, nos meandros da política científica demasiado inexistente há muito que questionar e corrigir. Significa que podemos melhorar. Há também muito em que investir para descobrir soluções para os nossos problemas, aumentando assim a nossa eficiência no uso dos recursos naturais e outros. Infelizmente, as últimas notícias no Facebook dão conta de alterações de última hora, e logo após a última reunião do júri da área da sociologia. Trata-se só de um episódio que agora conhecemos online por força da utilização desta tecnologia, que torna tudo mais transparente, aumentando a capacidade cívica de cada um intervir nestes processos.

Tal como noutros pontos da agenda governativa, assistimos a uma desajeitada preparação das decisões, que não resolve o problema nacional de potenciar a resolução dos nossos problemas técnicos, económicos e sociais. Nem sequer permitem aproveitar a geração de jovens que já conhecem a Europa e o Mundo e podem, por isso, internalizar no país as descobertas científicas de que tanto precisamos para construir solidamente a nossa bem necessária maior competitividade. Contudo, tudo nos diz que esse não é o problema do governo. Nem parece ter a preocupação de gastar menos. Tem outra agenda e, através da minha curta pesquisa sobre a opinião da gente da ciência, parece que não convence ninguém. Não vemos na verdade uma vontade firme de acertar no equacionamento dos problemas. Também não vemos qualquer perspetiva de querer acertar na solução dos nossos problemas da Educação e da Saúde.

Estamos assim bem mal porque bem à deriva. Quem nos salva? Nós. É claro.

 

1 Revista Industrial, Coimbra,

2 de Março de 1918, ano 1, nº 2, p. 1.

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