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Uma comunicação social envidraçada e fosca

07 de fevereiro às 15h23
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Maria Helena Teixeira - química e escritora

Chegou-me agora a voz sombria do cansaço dos noticiários que, para além de uma informação verdadeira, deveriam servir para reunir, discutir e nos pôr a pensar caminhando num horizonte… e tudo parece fazerem para atingir o contrário!…
De uma forma quase transversal, começamos a confrontarmo-nos com a imagem de uma comunicação social envidraçada e fosca e nós, ouvintes e leitores saturados e já pouco atentos pelo cansaço, receamos partir alguns desses vidros foscos que impedem a transparência de notícias verdadeiras… e, já saturados por esse cansaço, vamos espreitando por tais janelas da divulgação que têm mais em vista provocar momentos de confusão e finitude do que o contrário. A credibilidade confinada, apressada e tendenciosa de alguns noticiários dá lugar a que certos acontecimentos, que nunca seriam notícia em parte alguma, sejam transformados em notícia do dia, tema de abertura ou de primeira página, escândalos (ou pseudoescândalos) que, algum tempo depois, à luz do dia, se comprova serem apenas tendenciosas (maldosas) espectativas falhadas. Reportagens falaciosas, vezes sem conta transmitidas e muitas vezes exponencialmente desenvolvidas por locutores e comentadores (nunca houve tantos “comentadores” em Portugal…) que ninguém filtra (ou será que são “escolhidos a dedo”?!).
Note-se que filtrar não é censurar. Mas é que há muita gente que acredita em assuntos que não são assuntos mas lhe são apresentados como se o fossem, que acredita em respostas que nunca tiveram perguntas, que surgem muitas vezes apenas por falta de vergonha, por falta de pudor (ética…) jornalístico. E, nos últimos tempos, estamos a assistir na sociedade portuguesa (e talvez noutras) a um período muito difícil de aproveitamento do baixo patamar da literacia política das populações, exactamente pela falta de filtro. Atravessamos uma época de grandes mudanças, uma época de confronto através do ruído e da turbulência, mais parecendo que estes só pretendem canalizar as mentalidades para alcançar uma mudança radical de comportamentos numa nova época.
Os principais temas da política estão cobertos de uma pele grossa que não descama pelos acordos da palavra, cedendo só à chantagem ou ao uso das armas!… O Mundo continua às avessas (ou caminha para tal) e os seus líderes não tentam fazer obra associando-se em projectos comuns para transversalmente atravessarem os problemas, e muitos dos que isso percebem são afastados, perdem as lideranças ou desistem de lutar por elas e não tentam recuperá-las.
Entre a luz e a sombra acomoda-se muito do jornalismo dos actuais noticiários que do pó fazem um sonho e nós interrogamos a existência sobre a forma do sonho transformado em lixo que podia ser cristal. Penso que esta devia ser a ambição dos noticiários: rejeitar o lixo para poderem vir a ser cristal.

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