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Opinião: Turismo: prisão ou alavanca? A tecnologia é chave para um Shift

06 de outubro às 11 h26
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Em 2024, Portugal registou a chegada de 29 milhões de turistas estrangeiros (crescimento de 9,3%). Os cerca de 8,5 mil alojamentos turísticos em atividade receberam 34 milhões de hóspedes em 2024. Em particular na região Centro, o número ultrapassou os 8 milhões pela primeira vez, registando um total de 8.377.732 em 2024, representando um aumento expressivo de 5,5%, sendo que as receitas ultrapassaram os 500 milhões de euros na região.
No total, o INE estima que direta ou indiretamente o setor represente cerca de 12% do PIB, e acordo com os dados estima-se que a atividade turística gerou um contributo total de 34 mil milhões de euros.
No entanto este crescimento não é virtuoso e levanta várias questões. Sendo um setor baseado na prestação de serviços, não é considerado um motor de “verdadeiro desenvolvimento”, pois gera pouca inovação e tem efeitos reduzidos no arrastamento para outras indústrias/setores. Adicionalmente, a sazonalidade gera instabilidade no emprego (em média, pouco qualificado), é fortemente dependente de fatores externos (como crises globais e temas de segurança), e cria pressão em recursos ou infraestruturas como hospitais ou aeroportos.
“Portugal tem turismo a mais?”
A pergunta é provocadora, mas a resposta raramente é simples…
O sobreturismo tem vindo a tornar-se um desafio. Cidades como Lisboa, Porto, Veneza ou Barcelona enfrentam as consequências da massificação turística: perda de identidade local, aumento do custo de vida e pressão sobre a qualidade de vida dos habitantes. As políticas e as estratégias têm de abordar os problemas de gestão de fluxos, planeamento e distribuição no território. Mas na verdade é que, apesar dos riscos do sobreturismo, a dificuldade para muitas cidades/destinos passa ainda por conseguir captar visitantes.
O debate atual passa então por entender como é que enquanto país, poderemos gerir, qualificar e diversificar a experiência turística, garantindo que as atividades turísticas possam ser dínamos de desenvolvimento sustentável.
Assim, ao repensar o turismo como força transformadora de territórios e comunidades, importa olhar para além do litoral e dos centros urbanos. Neste contexto, o Centro de Portugal oferece dualidade peculiar e distintiva: a capacidade de preservar o seu património rural, humano, cultural e ambiental e, ao mesmo tempo, a predisposição para inovar. O Centro de Portugal assume-se, assim, como um laboratório vivo, onde se cruzam o saber-fazer ancestral e a visão de futuro.
Um exemplo em quero destacar é o Shift Coimbra. Este projeto aborda a tecnologia como chave para repensar a relação entre turismo, cultura e sustentabilidade. Ao promover práticas responsáveis e ao estimular a diversificação da oferta turística, o projeto contribui para aliviar a concentração excessiva de visitantes em zonas já saturadas. Mais do que só atrair novos turistas, a sustentabilidade na atividade turística tem de ser vista na dimensão ambiental, social, económica e cultural. O projeto está a desenvolver ferramentas digitais para criar experiências que envolvam a comunidade, respeitem o património e incentivem a permanência prolongada dos visitantes, em vez do consumo rápido e massificado. Paralelamente trabalham-se dimensões de formação, contribuindo para a capacitação de pessoas que exercem a sua atividade profissional no setor, bem como a dimensão empreendedorismo na perspetiva de criação de produtos diferenciados e da adoção de novas tecnologias no setor.
Neste momento em que muitas cidades europeias procuram soluções para recuperar o equilíbrio perdido, Coimbra afirma-se como exemplo de inovação, mostrando que é possível conjugar turismo com sustentabilidade, tradição com futuro, e identidade local com abertura ao mundo.
Portugal poderá não necessitar de mais turismo, mas pode beneficiar bastante de “melhor” turismo.

Autoria de:

Jorge Pimenta

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