Opinião: Os formigueiros de carbono de Namaqueland
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Os morros das formigas termiteiras mais antigos do mundo, situados na região de Namaqualand, na África do Sul, armazenam carbono há milhares de anos. A descoberta, feita por um grupo de cientistas da Cidade do Cabo, aponta para 34.000 a 13.000 anos de antiguidade, sendo que os mais antigos que se conheciam até à data teriam 4.000 anos, de uma espécie oriunda do Brasil, e pelo menos 2.300 anos na região central do Congo.
A paisagem ao longo do Rio Buffels, na região de Namaqualand, situada a cerca de 530 quilómetros da Cidade do Cabo, é pontilhada com milhares de morros de areia de cor lilás, ocupando cerca de 27% da área de superfície.
Esses pequenos ‘heuweltjies’, ou “pequenas colinas” na língua local Africâner, estão interligados por uma rede subterrânea de túneis construídos por estes insetos.
Na ótica da investigadora Michele Francis da universidade sul-africana de Stellenbosch trata-se de uma descoberta científica para além de uma pequena “curiosidade histórica”, uma vez que oferece a oportunidade de conhecer o passado do nosso planeta de há dezenas de milhares de anos, assim como aceder a um “arquivo vivo” das condições ambientais que o moldaram.
Segundo esta académica, há evidências crescentes de que estas formigas têm um papel substancial, mas ainda mal compreendido, no ciclo do carbono, particularmente no seu armazenamento, sendo considerado vital para mitigar as mudanças climáticas.
Para os cientistas, a região de Namaqualand é um “hotspot” global de biodiversidade, popularmente conhecida pela sua flora na primavera, embora sendo uma região árida. A disponibilidade de água à superfície é escassa, e a água no subsolo é salina. E quando as chuvas ocorrem, a rede de morros destas formigas serve de “captação” e “canalização” da água da chuva. Os insetos vão acumulando também o carbono lentamente na parte central do interior do morro durante a recolha de material vegetal que têm transportado ao longo de milénios.
Os cientistas querem valorizar como “engenheiros do ecossistema”, pois no caso de Namaqualand contribuem com 44% do total de carbono orgânico armazenado no solo árido, pese embora ocuparem apenas 27% da área total.