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Opinião: O centro comercial Alma

08 de março às 17h36
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O alma shopping (dolce vita no começo) foi uma construção soberba do ponto de vista estrutural, logístico, organizativo. Criou-se o maior buraco em zona urbana de Coimbra que houvera sido imaginado. Tudo foi orientado de modo a não causar problemas à circulação automóvel. Durante mais de dois anos foram alteradas a Praça “heróis do ultramar”, construiu-se uma piscina olímpica, um pavilhão desportivo e um centro comercial que viria a ser premiado como dos melhores do mundo tendo em conta a integração urbana.

Tudo isto destruiu a estrutura bem próxima que era o Girassolum. Perdeu lojas, perdeu o cinema e acabou por atravessar períodos longos de estagnação e ausência de investimentos nos espaços comerciais. Está melhor, mas a situação não ganhou a eloquência de outrora.

O Alma veio a atravessar alguns anos de violência externa que dificilmente não teriam consequências importantes. Primeiro a pandemia e as medidas restritivas à liberdade e circulação. Vários longos meses de ausência de movimento no centro comercial e apesar de medidas de apoio do estado havia uma forte contundência no negócio. Logo se cumpriu o desígnio da revisão de infraestruturas no subsolo de Coimbra e construção do metro mondego. Uma obra que não deu tréguas durante três anos e que sujeitou o Alma a uma intensa perda de clientes. Contrariamente ao tempo da sua construção, agora a logística e a organização da circulação foi medíocre, as filas de trânsito afastaram as pessoas, e a desordem afugentou um grande número.

Chegamos ao ponto de rompimento. A Inditex, empresa que distribui as lojas âncora dos centros comerciais portugueses, com inúmeras marcas como Zara, Maximo Dutti, Bershka, Oysho, Stradivarius, etc, decide largar o Alma e apostar tudo no Forum. A redução de vendas durante estes últimos anos foi um violento teste às capacidades dos lojistas e dos comerciantes. Para lá das lojas âncora, com vantagens competitivas da sua dimensão, existem os que pagam rendas pornográficas e sustentam com muito esforço o condomínio do Centro Comercial. O custo da dinâmica da vida é esta relação entre decisões e consequências. O Alma atravessa o seu momento mais crítico após um atentado violento à sua envolvência. Cinco anos de constrangimentos puseram em causa uma das mais magníficas ideias comerciais que se edificou numa cidade portuguesa. Uma estrutura integrada num bairro populoso, com resposta de estacionamento, com equipamentos desportivos e de lazer na proximidade. Nada parecia fora da equação. Cinco anos de decisões políticas discutíveis, com planeamento abaixo do ideal, com logística longe da perfeição colocou o centro no caminho do Girassolum.

Na minha perspectiva é uma estrutura que acabará por recuperar, pois é um doente robusto, um lugar magnífico, um templo ao consumo com tudo o que lhe dá vantagens. Mas aquela zona tem de ser poupada a mais surpresas durante alguns anos. Com o risco de errar, pois não sou empresário, diria que o Alma é um espaço para o luxo. Diria que a aposta devia ser no comércio de apostas elaboradas, marcas em falta no panorama português, cinema comercial e utilização multifacetada dos espaços de espectáculo. Tem tudo para dar certo e só falta um hotel de qualidade ali por perto.

Autoria de:

Diogo Cabrita

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