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Opinião: Mário Soares – breve evocação

07 de dezembro às 09h00
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No centenário de Mário Soares, cumpre sublinhar, sem tentação hagiográfica, alguns traços da importância do fundador do Partido Socialista para a instituição e consolidação do Estado de Direito Democrático em Portugal.

Não se trata de analisar os méritos ou os deméritos de Soares no governo do país. Nem de ajuizar da sua marca como Presidente da República. A história política, a seu tempo, com a imperfeita neutralidade de estudos que nunca são científicos porque sempre tocados pelas posições, e paixões, do analista, se encarregará dessa tarefa.

Sem Soares dificilmente teríamos as eleições de 1976, nem o consequente primeiro governo constitucional. Essas eleições e esse governo marcam a instituição de uma autêntica democracia representativa, fundada na livre e periódica escolha de programas políticos e conceções de sociedade concorrentes e alternativas.

Pois não há democracia a sério sem representação, sem pluripartidarismo e sem direitos de liberdade.

Soares, que já havia afrontado o Estado Novo, pagando o preço do exílio, nos anos tórridos de 74 e 75 erguer-se-á contra as tentações antidemocráticas, de sinal simétrico, de 28 de setembro, de 11 de março e de 25 de novembro. Não se ergue só.  Mas é decisivo.

Ao fio da memória, recorde-se o debate com Álvaro Cunhal, a 6 de novembro de 75, nas vésperas desse outro 25, marco indelével da resistência democrática à tentação totalitária. Ou, antes, em pleno Verão Quente, o comício da Fonte Luminosa, a 19 de junho de 75, com a exigência da demissão de Vasco Gonçalves. Ou, com Salgado Zenha, a resistência singular à unicidade sindical.

Instituída e estabilizada a democracia representativa, Soares tem um papel crucial na legitimação da direita democrática, não hesitando em celebrar acordos de governo com o CDS de Freitas do Amaral e Amaro da Costa, em 1978, e com o PSD de Mota Pinto, em 1983.

O que não o impediu de duríssima confrontação política, que nunca pessoal, em 1986, com Freitas do Amaral.

Portugal não deve apenas a Soares a imperativa escolha da democracia representativa. Pois é com Soares que o país se define como Estado Social e se projeta para a Europa, com a assinatura, em junho de 1985, do tratado de adesão da República portuguesa às Comunidades Europeias.

Tudo isto devemos a Mário Soares. Um homem, verdadeiramente, maior que a vida.

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