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Opinião: Houve água salgada no asteroide Ryugu?

16 de janeiro às 11h07
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Todos já ouvimos falar muito da NASA, a agencia espacial norte-americana, e da ESA, a agência espacial europeia. Da JAXA, a agência espacial japonesa, já ouvimos menos. No entanto, ela tem vindo a envolver-se em cada vez mais missões espaciais. Tendo, por exemplo, lançado em 2003 a missão Hayabusa para visitar o asteroide 25143 Itokawa que dele recolheu poeiras e regressou à Terra em 2010.

A missão sofreu várias peripécias, tendo até dado origem a uma longa-metragem, em 2011, que nunca foi exibida em Portugal.

Em 2014, a JAXA lança a Hayabusa 2. Desta vez com o objetivo de ir ao asteróide 162173 Ryugu, um asteroide de 900 metros classificado como potencialmente perigoso dado que pode aproximar-se até 90000 km da Terra — pouco mais de um quinto da distância da Terra à Lua. Este asteroide, muito rico em carbono, demora apenas 1,3 anos a completar uma volta ao Sol e 7,6 horas a completar uma volta sobre si próprio, tendo uma forma bastante curiosa como se pode ver na imagem.

Chegando ao asteroide em 2018, esteve cerca de um ano e meio a estudá-lo, lançou quatro pequenos rovers saltitões — em vez de se moverem sobre rodas ou lagartas, davam saltos — e recolheu uma amostra que regressou à Terra em 2020, numa cápsula. Muitas foram as equipas de astrónomos e planetólogos que se apressaram a estudar cuidadosamente a «enormidade» de 5,4 gramas de amostra recolhida.

Num trabalho liderado por Toru Matsumoto, e publicado no mês passado na revista Nature Astronomy, é anunciada a descoberta da presença de carbonato de sódio nessa amostra. O carbonato de sódio — Na2CO3, para quem gosta de fórmula químicas — é um sal branco que nós utilizamos em sabões e detergentes e que, quando combinado com água e dióxido de carbono, faz o nosso bem conhecido bicarbonato de sódio, usado para levedar bolos ou combater a azia.

Mas porquê o espanto dessa deteção num asteroide próximo de nós? Porque essa deteção indica que existiu alguma água salgada a fluir entre as pedras e poeiras do asteroide. Não estamos a falar de um oceano recente, evidentemente, pois temos aqui um objeto de apenas 900 metros. Porém, tudo sugere que o asteroide Ryugu é um bocado de um corpo muito maior que existiu e se fragmentou «em mil pedaços» devido a uma colisão no Espaço.

Assim, crê-se que alguma água líquida existiu nesse corpo maior que, com o tempo, se foi desidratando devido ao calor vindo do seu interior, ou seja, foi perdendo água — perdendo humidade será, porventura, uma visualização melhor. Esse corpo maior deve ter-se formado não dentro da Cintura Asteroides como hoje a conhecemos mas um pouco mais longe, podendo até ter-se formado para além do planeta Júpiter. Ainda não compreendemos inteiramente o que se passou, claro, mas o Ryugu faz parte de um vasto grupo de asteroides, ricos em carbono e ricos em moléculas de água combinadas com vários minerais, que se crê terem sido a principal fonte da água que hoje temos no planeta Terra. Compreender o que se passou, permite-nos melhor compreender qual a possibilidade de outros corpos do sistema solar possuirem ambientes aquáticos habitáveis, mesmo que sejam apenas lençóis de água subterrâneos e não lagos e oceanos.

Autoria de:

Nuno Peixinho

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