Opinião: Há poesia à solta na cidade…

Um dos aspectos atractivos de Coimbra é a sua intensa e variada actividade cultural.
Embora às vezes não pareça, Coimbra é mesmo uma “Cidade de Cultura”.
Existem aqui muitas dezenas de instituições que promovem iniciativas nos diversos ramos culturais, pelo que todos os dias há coisas interessantes para ver e ouvir.
Nem sempre o público aproveita esse invejável manancial de manifestações. Muitas vezes por divulgação insuficiente ou pouco eficaz, outras por puro desleixo dos potenciais apreciadores, que não procuram informar-se nos locais certos e em tempo útil.
Daí que eu opte, hoje, por ocupar este espaço relembrando que está a decorrer a XXVII Semana Cultural da Universidade de Coimbra, este ano dedicada à Poesia. Um tema muito feliz, pois Coimbra sempre foi inspiradora para poetas que por aqui foram passando ao longo dos séculos.
Nesta 27.ª edição, a escolha da Universidade baseou-se na confluência da celebração de três efemérides muito marcantes: os 735 anos da sua própria fundação, os 700 anos da morte do seu fundador, o Rei D. Dinis, e os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, o nosso Poeta maior.
A Universidade justifica assim esta sua opção:
“Antes de mais por ser D. Dinis o Rei-Poeta, título que se justifica não apenas pelo contributo que deu à literatura, mas pela tenacidade criativa e construtora, que são afinal conceitos cobertos igualmente pelo termo poietes ou ‘poeta’. Em seguida, porque desse impulso criador decorre a fundação da Universidade de Coimbra, também ela um ato poético em construção ininterrupta, no qual cada geração continua a inscrever renovados contributos à arte, à cultura e à ciência.
Finalmente, porque a celebração dos 500 anos do Nascimento de Luís de Camões, cujo arranque oficial ocorreu em Coimbra a 10 de junho de 2024, continuará a ser evocada com iniciativas culturais e científicas, sublinhando o papel unificador que a língua de Camões assumiria nos territórios hoje pertencentes à comunidade lusófona, bem como ocontributo fundamental da Universidade de Coimbra para a promoção e difusão da língua e cultura portuguesas”.
O programa é muito vasto, muito diverso e muito aliciante.
E tem ainda uma outra faceta que, felizmente, tem vindo a ampliar-se: a da abertura da Universidade à cidade, e vice-versa.
Trata-se de uma meritória visão abrangente dos dirigentes daquela que, ao longo dos tempos, foi sendo considerada como “uma torre de marfim fechada sobre si própria”, divorciada do “reino dos futricas”, para os quais olhava, com sobranceria, do alto da “sagrada colina”.
Aos poucos, as coisas têm vindo a mudar, adaptando-se aos novos tempos, ainda que sem perder o cunho da tradição singular acumulada ao longo de mais de sete séculos – e que caracteriza uma das mais antigas e prestigiadas Universidades da Europa e do Mundo.
Uma simbiose a que alguns “velhos do Restelo” ainda reagem, mas que tem trazido benefícios recíprocos, valorizando a Universidade e quantos a constituem, enriquecendo a cidade e quantos nela vivem.
Aproveitemos, pois, esta Semana Cultural, para estreitar ainda mais os laços fraternos que nos unem. Porque o programa é tão vasto e tão variado que, certamente, todos os gostos nele encontrarão motivos de interesse.
Felicitando a Universidade por mais esta iniciativa, aqui deixo o endereço onde podem consultar o respectivo programa:
https://www.uc.pt/cultura/semana-cultural/
(Post Scriptum: Foi a sepultar esta terça-feira o dr. José Alberto Garcia, um dos Associados mais participativo e animado nas iniciativas da AAEC, juntamente com sua Mulher, a dr.ª Isabel Garcia. À editora de ambos, a MinervaCoimbra, se deve apreciável contributo para a cultura, incluindo nos domínios da poesia. A título pessoal, e em nome da AAEC, aqui manifesto tristeza e pesar pela inesperada e prematura partida deste querido Amigo, de quem já sentimos a falta).