diario as beiras
opiniao

Opinião: Falta de Médicos? Ou falta de condições para os Médicos?

11 de setembro às 11h45
0 comentário(s)

Portugal não tem falta de Médicos. Em 2021, era o segundo Estado-membro da União Europeia com mais médicos autorizados a exercer por 100 mil habitantes, segundo o Eurostat. Em 2022, o número de médicos aumentou para 5,8 por mil habitantes, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que apontam que nesse ano estavam inscritos na Ordem dos Médicos 60.396 profissionais.

Mesmo que aceitemos que o rácio médico/doente possa estar sobrevalorizado pelo facto de muitos destes médicos já terem uma idade avançada, o que lhes permite não realizar serviço de urgência, ou mesmo tendo em conta que alguns poderão até já não manter a atividade clinica real, o mesmo raciocínio tem de ser aplicado em relação aos médicos noutros países pelo que o rácio médico doente não se altera.

Portugal não está a formar poucos Médicos. Em 2017, formavam-se em Portugal 25% mais médicos do que na média dos países da OCDE. Em 2019, Portugal destacou-se na 10.ª posição entre 36 países membros da OCDE formando cerca de 17% mais médicos do que a média dos países da OCDE, ou seja, uma ligeira descida comparada com dados de 2017, mas ainda assim muito acima da média.

Os Médicos Portugueses estão a emigrar mais. Mais de 1780 médicos saíram do nosso país nos últimos 5 anos, para procurarem novas oportunidades fora de Portugal. Apenas em 2023, 450 médicos pediram à Ordem dos Médicos declaração para emigrar, um número que tem vindo a aumentar desde 2021. Na lista dos países mais procurados estão o Reino Unido, a Alemanha, a Suíça, a Irlanda, os Estados Unidos da América, o Canadá, a Austrália e a Arábia Saudita, onde oferecem carreiras mais atrativas e com melhores salários.

O número de Médicos a abandonar o SNS para o Sistema Privado tem aumentado. Um estudo, revelado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, revelou que mais de dois terços dos médicos ( 67%) que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão pouco ou nada satisfeitos com o setor e mais de um quarto ( 26%) dos clínicos tenciona deixar a unidade de saúde onde trabalha ou conjugar com a clínica privada. As razões do descontentamento no SNS não deixam margem para dúvidas: 75% apontaram a remuneração base como principal motivo de insatisfação; 63% a carência de recursos humanos e/ou equipamentos; e 47% identificaram o excesso de doentes com impacto no tempo e na qualidade.

Os Salários dos Médicos em Portugal não são atrativos. Os Médicos portugueses perderam poder de compra e estão entre os que menos ganham na EU. Os dados mais recentes da OCDE indicam que, entre 2010 e 2022, a remuneração média dos médicos especialistas em Portugal diminuiu de 4075 euros ilíquidos por mês 3039 euros ilíquidos por mês. Em 2021, os médicos especialistas portugueses ganhavam menos 44,4% do que os espanhóis, menos 71,3% do que os alemães, e menos 39% do que os eslovenos, só para citar alguns exemplos. De igual forma, na publicação mais recente sobre recursos humanos em saúde, Pedro Pita Barros e Eduardo Costa deram conta da redução do “ganho médio mensal” dos médicos em Portugal na última década – que passou de 3729 euros mensais, em 2011, para 3 558 euros, em 2022. Uma diminuição da ordem dos 5%.

Criar mais Faculdades de Medicina não significa ter mais médicos em Portugal. A criação de médicos especialistas em Portugal não depende apenas do número de alunos saídos das Faculdades de Medicina. A abertura de vagas de especialidade depende da capacidade formativa das instituições de saúde, e por isso não é difícil de compreender a problemática de que mais estudantes não implica a existência de um número de vagas suficientes para os acolher. Por exemplo, em 2022, havia apenas 2044 vagas de especialidade para os 2345 estudantes formados que pretendiam uma colocação.

Por outro lado, os estudos revelam que cerca de 60% dos médicos admitiram estar insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o excesso de horas de trabalho. O número sobe para 74,1% quando está em causa o descontentamento face ao tempo disponível para a família, amigos ou lazer.

A carga horária, a remuneração e a falta de oportunidades de progressão na carreira são os principais fatores que impulsionam a saída para o estrangeiro ou para o setor privado, e por isso a solução não está em formar mais médicos, mas sim em dar melhores condições aos médicos que (ainda) existem.

Autoria de:

Luís Teixeira

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


Últimas

opiniao