Opinião: Ariane 6, o que é e o que significa?

O que representa o lançamento do Ariane 6, no passado dia 9 de Julho, para Portugal?
Sabemos que a “nova” corrida espacial tem tido alguns protagonistas destacados: da privada SpaceX americana, ao frenesim das agências espaciais chinesa (vejam-se as missões Shenzhou) e indiana… O papel secundário a que o velho continente se viu relegado, pelo menos nas paragonas, tem deixado no ar uma questão premente: e então a Europa?
Comecemos pelo início.
O Ariane 6 é o último de uma longa linha de lançadores europeus, cujo nascimento remonta a 1973, com o primeiro foguetão a ser lançado seis anos depois, em 1979. Em 1996, a estreia do Ariane 5 garantiu à Europa um importante trunfo no transporte espacial. Com um total de 117 lançamentos, dos quais 115 foram bem-sucedidos, o Ariane 5 foi responsável por lançar missões importantes como a sonda espacial Roseta ( 2004 ), o telescópio espacial James Webb ( 2021 ), ou a missão JUICE ( 2023 ), entre muitas outras.
A atividade europeia tem sido constante, intensa e decisiva na exploração espacial. Muito para além dos foguetões, destaco a importância dada pelo Conselho Europeu na criação primeira Estratégia Espacial da U.E. para a Segurança e a Defesa, reforçando o papel “moderador” no sentido de estabelecer normas, regras e princípios de comportamentos responsáveis em toda a gama de atividades espaciais.
Com o Ariane 6, a Europa criou um lançador suficientemente competitivo para enfrentar os grandes operadores privados, e capaz de responder aos problemas da sustentabilidade das operações espaciais. O dia 9 de julho, marca assim uma nova era, pois para além de reintroduzir a Agência Espacial Europeia (ESA) no cenário espacial, traz novas possibilidades para a investigação e desenvolvimento tecnológico. Este lançamento é o culminar de mais de uma década de trabalho, que envolveu 13 estados-membro da ESA e mais de 600 empresas de toda a Europa, incluindo o envolvimento de algumas entidades portuguesas. Em particular destaco: a Critical Software que desenvolveu software de telemetria e a Evoleo que foi responsável pelo desenvolvimento da unidade de distribuição e controlo de energia, do kit de telemetria de vídeo. Adicionalmente Thales-Edisoft Portugal, que opera no teleporto de Santa Maria nos Açores, contribuiu para o estabelecimento de comunicações numa das fases críticas do lançamento. Outra pequena “vitória” foi o envio com sucesso do nanossatélite português ISTSat-1, concebido integralmente por alunos e professos do Instituto Superior Técnico. Este esforço mostrou como se podem integrar todos os sistemas fundamentais de um satélite num pequeno cubo com o volume de 1 litro.
Portugal tem desenvolvido paulatinamente um cluster de empresas que conseguem competir num dos segmentos mais difíceis e exigentes: o aeroespacial. Nomes como a Active Space Technologies, Critical Software, Evoleo, FHP, Geosat, LusoSpace, ou ISQ, são hoje atores de pleno direito neste mercado.
As startups também têm feito o seu caminho com o apoio decisivo do Instituo Pedro Nunes e do programa ESA BIC Portugal (www.space.ipn.pt), que comemora já este ano o seu 10º aniversário, numa cerimónia em Coimbra, no dia 10 de outubro.
As universidades, empresas e instituições portuguesas estão a assumir, e devem reforçar, a sua aposta no domínio das tecnologias espaciais, como uma estratégia de afirmação global.