Opinião: A ciência e a sociedade

O universo e a natureza existem há mais tempo do que a nossa espécie, e continuarão a existir após a nossa extinção. As nossas preocupações actuais com as alterações climáticas e a perda de biodiversidade são válidas e importantes, mas são-no principalmente para nós próprios.
A teoria de Darwin baseia-se no surgir e desaparer constante de espécies, num ecosistema interdependente e em evolução, em que a melhor hoje pode não ser a melhor amanhã. Mesmo nos piores cenários de alteração climática existirão espécies, ou variantes das mesmas, que se darão bem, e a natureza continuará. Já para não falar do universo, que tem inúmeros outros planetas orbitando inúmeras outras estrelas com que se preocupar.
Em ciência gostamos de simplicidade e procuramos os princípios fundamentais que estão por detrás da diversidade que nos rodeia. Um dos princípios mais fundamentais é que a natureza não tolera desequilíbrios. A energia tem que fluir de onde há muita para onde há pouca, passando de um estado mais concentrado e utilizável para um estado mais disperso e menos fácil de usar. Quando a sopa quente arrefece a energia não se perde, simplesmente se dispersa perdendo a sua utilidade.
É nestas cascatas energéticas que a vida se desenvolveu. A energia concentrada no Sol flui em direcção à Terra e converte-se na riqueza da biosfera que nos rodeia. Sim, é a energia do Sol que dá origem a praticamente tudo o que vemos à superfície da Terra. É da energia solar, convertida em matéria orgânica pelas plantas, que parte a cadeia alimentar, que se torna numa rede em que todos dependem de todos. Mas se alguém se extinguir o sistema ajusta-se, enquanto a cascata energética continuar a fluir. O sistema pode ser visto como uma sequência de rodas dentadas em que a roda grande, alimentada pelo Sol, faz rodar rodas mais pequenas, que por sua vez move rodas ainda mais pequenas, e por aí fora.
A espécie humana levou este processo ao limite, principalmente no que toca a processos burocráticos e à sofreguidão pelo crescimento económico. As avaliações de desempenho das empresas e os processos de adjudicação de contratos públicos são exemplos de estruturas de dissipação de energia que consomem recursos substanciais, também sob a forma de trabalho humano, tempo e esforço cognitivo, produzindo frequentemente resultados decrescentes em termos de eficiência ou eficácia. Por outro lado, os interesses económicos das megacorporações que gerem redes sociais trouxeram problemas como a difusão de desinformação, polarização e potencial manipulação da opinião pública, e a erosão da privacidade. Ambos os casos têm consequências adversas para a saúde psicológica das pessoas.
Talvez seja preciso começar a pensar em simplificar, em aumentar a eficiência, reduzir o desgaste, pelo menos até níveis mais próximos do resto da biosfera e do que o planeta aguenta. A ciência gosta da simplicidade porque, no fundo, a natureza, na sua complexidade, é simples.