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Opinião: Aquele vídeo impossível de esquecer

18 de outubro às 11 h11
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O bombeiro madeirense detido em agosto, por agredir a mãe do filho de 9 anos, vai deixar de estar em prisão preventiva. Vai para casa menos de dois meses depois de termos visto as imagens deste homem a agredir violentamente a ex-companheira – enquanto o filho gritava, em desespero, para o pai parar. A prisão preventiva passa a prisão domiciliária. Haverá, certamente, uma qualquer razão de cariz técnico para esta decisão, mas isto é incompreensível para quem viu aquele vídeo e ouviu os gritos daquela criança – impossíveis de esquecer.
O que vimos naquele vídeo – impossível de esquecer – mostra bem a violência física (e psicológica) a que aquela mulher foi sujeita. Mas se isso não bastar, há os relatórios médicos: a vítima foi submetida a uma cirurgia no Hospital do Funchal. Uma patrulha da PSP foi chamada logo na madrugada da agressão, mas como o agressor já não estava no local e as agressões já tinham ocorrido, não pode haver detenção em flagrante delito. Teve que ser emitido um mandato de detenção. Apesar daquele vídeo – impossível de esquecer – a detenção demorou dois longos dias, durante os quais todos os horrores podiam ter acontecido.
O que vimos naquele vídeo não foi a primeira vez. A violência terá começado ainda na residência do casal, mas a agressão filmada já ocorreu na casa para onde mãe e filho se mudaram depois da separação. Uma nova casa onde estavam a tentar recomeçar, um lugar seguro. Mas esta mulher parece não ter direito a novas oportunidades. E com esta alteração, pior: ele fica preso em casa, ela também. Só que para ela nem a casa é território seguro – como nos mostrou aquele vídeo impossível de esquecer.
Até ao final de agosto, Portugal contabilizava 13 vítimas mortais de violência doméstica. As mulheres e as crianças são a maioria das vítimas. Na mesma altura em que alguém fazia este balanço – os números da nossa vergonha – este homem espancava a mãe do filho à frente dele. Podia ter sido mais uma numa lista que é muito provável que cresça até ao final do ano. E, apesar dos vídeos impossíveis de esquecer, todos os anos há uma nova lista. Quando é que vamos olhar para os crimes de violência doméstica com a urgência que eles merecem? Quando é que acaba a nossa ilimitada tolerância para com os agressores? Quando é que vamos começar a dar às vítimas uma oportunidade efetiva de recomeçar, em segurança, sem medo e com Justiça?
No vídeo vemos uma criança de 9 anos a colocar-se entre o agressor e a vítima, sem perceber que ele também é uma vítima. Um menino a fazer de escudo, entre o pai e a mãe, para a proteger. É um papel que nenhuma criança devia ter de chamar a si – por todos os motivos e, também, porque essa tarefa é da Justiça. Este homem vai ser obrigado a fazer tratamento para o alcoolismo e a frequentar o programa para agressores – uma nova oportunidade, se a quiser aproveitar. Enquanto o julgamento estiver a decorrer (quanto tempo?), está sujeito a termo de identidade e residência, regime de permanência na habitação com vigilância eletrónica e proibição de contactos com as vítimas. Oxalá seja suficiente, mas para quem viu aquele vídeo – impossível de esquecer – fica a dúvida: será?

Autoria de:

Martha Mendes

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