diario as beiras
opiniao

Dos mitos, invenções e deturpações da Tradição…

12 de novembro às 11 h28
0 comentário(s)

No passado dia 31 de Outubro a coisa que mais me assustou não foram os efeitos da época mas uma publicação oficial da nossa Universidade alusiva ao Halloween, certamente feita por um fauno-estagiário do Núcleo de Marketing, que tentou passar como parte integrante e verdadeira da nossa Tradição Académica um role alucinativo de invenções…

Em primeira mão esclareço que o problema não é a publicação e celebração em si do Halloween (que apesar de não ser celebração Portuguesa, está hodiernamente amplamente difundida na sociedade), mas sim o recurso a estórias inventadas que não têm presença ou fundamento histórico na comunidade Académica.

Em concreto, aparecem nessa publicação (que ainda lá está acessível) uma inventada “lápide na Rua das Matemáticas que não pode ser pisada”, uma lenda “que um Caloiro não pode atravessar a Porta Férrea sozinho”, que a “Capa só se rasga durante a Queima das Fitas” ou, pior para eu que sou do Pólo 2 ou para os meus colegas do Japão que “quem não escutar os sinos da Cabra” não consegue terminar o curso (A própria Cabra *é* o sino, seu Caloiro…!).Tudo isto invenções sem nexo, contexto ou fundamento na Praxe Coimbrã.

Existe uma diferença entre o que é mito e o que é uma invenção, tal como é estudado pela corrente filosófica do Everismo: O que faz um mito é a existência de um contexto, situação ou acontecimento verdadeiro que originou um comportamento ou reacção que hoje em dia é repercutida pelo hábito apesar de não fazer sentido na visão actual. Tais comportamentos, vulgo, mitos, habitualmente sobrevivem devido a uma moral, ou simbologia, que é vista como sendo benéfica aos praticantes, o que incentiva e recompensa a iteração do comportamento. Tais são os mitos que hoje em dia sobrevivem e são reconhecidos como fazendo parte integrante da Tradição Coimbrã, como por exemplo, o Azulejo da Raposa.

Já uma invenção é pura e simplesmente isso. Uma estória artificial desconexa de sentido ou contextualização no seu meio (neste caso na Tradição Coimbrã), muito provavelmente repescada por uma alucinação algorítmica.

A afronta poderia ser menor e passageira, mas é agravado pelo facto de essas invenções estarem a ser partilhadas conjuntamente com os mitos verdadeiros num meio de comunicação oficial do órgão tutelar, transmitindo a ideia de que todos esses não só fazem parte da Tradição, como existem e são proliferados pelos Estudantes. Algumas dessas invenções são até amplamente contrárias à Praxe Coimbrã!

Compreendo que o intuito principal é, acima de tudo, jocoso. Mas ao não haver um cuidado ou brio por parte dos órgãos tutelares com as informações que passam, corre-se o risco de cada vez mais termos um fenómeno díspar das suas raízes e valores, existindo meramente para turista ver. Agravado neste caso por o principal proponente ser a Universidade, ao invés de uma simples desinterpretação dum tablóide digital local.

Autoria de:

Matias Correia

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


Últimas

opiniao