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Opinião: À Mesa com Portugal – Pastelaria ultraprocessada

24 de outubro às 12 h00
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É um desconsolo o estado da pastelaria nacional. Não falo de doçaria, que alguns dos doces mais emblemáticos estão bem entregues e mantêm-se com rigor na receita e na apresentação, falo de pastelaria. É desolador olhar as montras e perceber a falta de qualidade da maioria dos produtos. Para um olhar treinado não são precisas legendas. O ar lustroso de um simples Bolo de Arroz, Queque ou Biscoito, não revela senão a presença de óleo, o que, por sua vez, é caminho para descobrir que a receita inclui a utilização de uma preparação feita pela indústria que permite uma solução rápida. Basta juntar óleo ao preparado e, rapidamente, temos bolo.
O tom amarelo forte de um Pão de Deus, quer na massa, quer na cobertura de coco, grita que algum corante foi utilizado, pois nada na receita poderia ter como resultado tal cor intensa. Já nem falo de cores impossíveis a não ser pela utilização de corantes como o roxo, o vermelho, o laranja. Se a ideia era dar colorido à montra, um olhar atento diz-nos que será alimento a evitar.
Nunca é demais fazer notar a diferença entre um processado e um ultraprocessado. O primeiro resulta da transformação de ingredientes em produto através de um conjunto de procedimentos culinários. É o caso da maioria dos produtos que consumimos como o pão, os enchidos, os queijos, e tantos outros. O segundo obriga ao recurso de ingredientes ou técnicas que não conseguimos ter nas nossas cozinhas, pois resultam de processamentos feitos pela indústria química. Um bom exemplo serão os aditivos usados para intensificar o sabor ou o aroma, para conservar ou realçar uma qualquer caraterística do produto, ou para dar a ideia de perfeição.
No meio de tudo isto é difícil encontrar uma boa pastelaria na maioria das cidades, vilas e aldeias. A produção rápida continua a ser uma solução rápida para quem gere o negócio e não quer ter mais do que um(a) pasteleiro(a) a produzir uma infinidade de produtos. Aliás, sempre que vejo uma pastelaria com uma montra com mil e um produtos desconfio. Ou tem um batalhão na cozinha ou tem uma despensa e salas de frio cheias de preparados.
É claro que, quando me perguntam, mas afinal que escolha temos? Eu respondo que não temos muita escolha, que o que nos é oferecido não segue parâmetros aceitáveis de qualidade. Contudo, se nós fizermos ouvir o nosso descontentamento, se procurarmos as boas soluções que ainda vão existindo estamos a proteger o património da pastelaria e estamos, sobretudo, a salvaguardar a nossa saúde e bem-estar. Vale a pena!

Autoria de:

Olga Cavaleiro

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