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Incêndios: Combate começa na prevenção com gestão da terra – investigador

20 de agosto às 08 h49
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O presidente e administrador da Associação BLC3 defendeu hoje que o combate aos incêndios começa na prevenção e sugeriu a criação de um mercado da terra, áreas de acolhimento agrícola e um sistema de impostos de estímulo.

“A verdadeira prevenção vai demorar mais de dez anos para começar a ter resultados. É necessário aproveitar a plataforma do Bupi para que seja possível contactar proprietários e estimular a criação de um mercado da terra com um valor de transação inferior a 0,50 euros por m2 e penalização de vendas superiores a este valor no IMT [Imposto Municipal sobre a Transmissão Onerosa de Imóveis] e IS [Imposto de Selo], e fortes penalizações para vendas não declaradas”, destacou João Nunes.

Em declarações à agência Lusa, o responsável da Associação BLC3 – Campus de Tecnologia e Inovação, com sede em Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, explicou que este mercado da terra deve ter em atenção que investir valores superiores a 0,50 euros por m2, em agricultura e floresta, “torna o ‘payback time’ muito grande”.

“Isto leva ao desinteresse do proprietário, em particular quando esse tempo é superior ao ciclo do fogo, que é habitualmente de sete a oito anos”, alertou.

De acordo com João Nunes, deve também ser criado um sistema de impostos de estímulo ao uso da terra, em função do grau de risco de incêndio e de saúde do solo.

“Não faz sentido que quem cuida da terra de forma correta pague o mesmo IMI [Imposto Municipal sobre Imóveis] de quem tem tudo abandonado e tenha o mesmo benefício no IRS (nenhum). Deve ser criado um IMI por escalões, fiscalizado anualmente via satélite, e um sistema de dedução de despesas de investimento e manutenção de ecossistemas no IRS”, indicou.

Deve ainda ser equacionada a criação de áreas de acolhimento agrícola, localizadas nos perímetros das aldeias e cidades do interior, “onde se evitem dois grandes investimentos”.

“O da aquisição da terra e se permita programas de exploração agrícola durante 20 anos, com áreas mínimas por lotes de três a dez hectares, para permitir diferentes tipos de cultura, e com um sistema de serviços partilhados: gestão da água, apoio técnico e uso de tratores e alfaias”, acrescentou.

De acordo com o responsável pelo centro de inovação BLC3, que desenvolve pinheiros mais resistentes à seca, deve ainda ter-se em atenção a exploração e uso responsável dos ecossistemas de povoamentos de eucaliptos.

“Deve haver uma carta profissional para quem pretende plantar eucaliptos e um seguro de responsabilidade social. Não deveria ser permitido plantar eucaliptos em montanha em zonas com declives superiores a 25 a 30%”, alegou.

Entre as suas sugestões figura ainda a criação de um programa para a descontinuidade do monoflorestas de eucalipto e pinheiro-bravo em 10% do território da região centro e norte de Portugal, criando faixas ecológicas a serem geridas pelo privado ou pelo Estado (via município) na ausência de interesse do privado.

Autoria de:

Agência Lusa

1 Comentário

  1. João Crisóstomo diz:

    Uma floresta que dá vida, não deserto

    Durante décadas, repetiu-se a ideia de que pinheiro e eucalipto seriam a base da floresta portuguesa. Hoje sabemos que, mesmo com boa gestão, estas espécies secam os solos e tornam a terra mais vulnerável. A promessa de um “pinheiro resistente à seca” não passa de mais uma ilusão: monoculturas não são solução.

    O futuro da floresta não pode estar no lucro rápido de pellets ou madeira de baixo valor. É preciso investir em florestas mistas, diversas e autóctones, que protejam os solos, conservem a humidade e sejam uma verdadeira mais-valia para o território. Portugal está a caminho da desertificação e, se nada mudar, perderemos muito mais do que árvores: perderemos vida, água e futuro.

    O argumento de que é urgente plantar rápido porque o ciclo do fogo é de 7 a 8 anos é um erro. Se o fogo regressa com essa frequência, então devemos compreender as causas e contrariar essa tendência com medidas concretas, não reforçando o modelo que alimenta o problema.

    Este caminho exige investimento. Cabe ao Estado e às Câmaras Municipais assumir essa responsabilidade, porque o retorno virá — e será maior do que qualquer lucro imediato.

    O que ganhamos com a floresta autóctone?

    Ambiental: solos mais férteis, menos erosão, mais água, maior biodiversidade e resiliência ao fogo.

    Económico: turismo de natureza, produtos de qualidade (mel, frutos, cogumelos, cortiça, castanha), madeira nobre e menos custos com incêndios.

    Social e cultural: fixação de populações no interior, identidade local reforçada, educação ambiental e comunidades mais ativas.

    A floresta natural que ainda resiste na Serra do Açor mostra-nos o caminho: carvalhos (negral e roble), castanheiros, sobreiros, azevinhos, loureiros, azereiros, medronheiros, urzes e giestas. Um mosaico vivo, adaptado ao território, que protege e alimenta a terra.

    A floresta pode ser muito mais do que uma fábrica de madeira. Pode ser vida, água, sombra, ar limpo, sustento e comunidade. É tempo de escolhermos este futuro — com visão, paciência e coragem.

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