Opinião: O “25 de Abril”… 49 anos depois…

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Na véspera do “25 de Abril”, chegada do estrangeiro onde passei alguns dias, quase esquecida do ruído das notícias da TAP, da visita de Lula da Silva, das celebrações do “25 de Abril”, fui de imediato confrontada com “mais do mesmo”.
No dia do “25 de Abril”, pela TV, assisti à chegada de Lula da Silva ao Parlamento e acompanhei a sessão que decorreu depois na Assembleia da República. Sinceramente que, desde início, não me parecia fácil remendar a manta em que embrulharam Lula da Silva quando o convidaram para as comemorações do “25 de Abril”. As opiniões adversas surgiram de imediato e milagre seria se tudo viesse a correr bem. Eu própria entendo que um chefe de estado de um qualquer outro País não deve participar em comemorações tão próprias, tão nacionais, tão específicas de Portugal, como são as do “25 de Abril”. Tal só considero como admissível se uma outra razão ou facto correlacionado, excepcional e muito personalizado, existisse. Mas, como Marcelo Rebelo de Sousa, viria a dizer mais tarde, “cada qual tem a sua interpretação e cada um sonha o seu “25 de Abril” à imagem do que entende dever ser continuado desde a semente de 1974”.
Afinal, a solução foi realizar-se a recepção a Lula da Silva no Parlamento e no dia 25 de Abril, mas imediatamente antes da sessão de “O 25 de Abril”!… Uma arquitectura de um plano difícil que, apesar de tudo, acabou por correr menos mal. Todavia, e como é natural, com um clima de certa crispação que inevitavelmente marcou aquela recepção e a sessão solene do “25 de Abril” que se seguiu. Uma manta com remendos nunca mais é perfeita … e o resultado viu-se!…
Tudo deveria ter sido previsto e diplomaticamente organizado para que Lula da Silva fosse recebido por todos os partidos com o respeito e a dignidade com que se recebe qualquer presidente estrangeiro, seja ele de direita, de esquerda, do centro, do norte ou do sul …
Ora aconteceu que, durante o discurso de Lula da Silva, se assistiu a uma manifestação vergonhosa de um partido que envergonhou um País que recebia alguém convidado pelo Presidente da República desse País. Se uns têm o direito de aplaudir, outros, democraticamente, têm o direito de não aplaudir (ou até, embora já por excesso, patear). Mas não têm o direito de patear e exibir cartazes ofensivos da dignidade pessoal e bandeiras da Ucrânia. Se Lula da Silva se havia pronunciado de um modo e, depois, atabalhoadamente, deu o dito por não dito, ou usou uma linguagem que nem diplomaticamente foi correcta, sobre a guerra da Ucrânia e a posição dos Estados Unidos e a Europa, aqueles deputados não estavam numa sessão de rotina da Assembleia da República em que livremente se podem manifestar. Há normas de convivência democrática, de comportamento, para cada uma das circunstâncias!…
A reacção do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, foi igualmente inesperada quando se dirigiu intempestivamente aos doze deputados do partido que assim se manifestavam, gritando e gesticulando: “Chega de insultos. Chega de envergonhar as Instituições e o nome de Portugal! Chega!…” (Coincidência!…. “Chega”!….).
Talvez estivesse melhor, e a “marca do dia” fosse menor, se tivesse gritado e gesticulado menos, como deve ser apanágio de um Presidente da Assembleia da República. Lula da Silva deu prova do seu “calo político” quando, à saída, se voltou para as bancadas e fez uma vénia irónica de despedida para os deputados daquele partido.
Infelizmente, estamos a assistir a uma proliferação da intolerância, quando não de ódio, na nossa democracia. A liberdade, depois de alcançada, devia ser como a formulou Álvaro de Campos: “lúcida e com raciocínio coerente”. Infelizmente, não é isso a que assistimos e o comportamento dos partidos não molha os pés nessas águas. Não vale a pena demagogia!.. Os extremos tocam-se, venham de direita ou de esquerda e os democratas perdem a pele de democratas quando se encostam a eles!…
Quanto aos discursos da verdadeira “Sessão do 25 de Abril”, senti que o desígnio nacional é vazio nos principais discursos… que a democracia está a escorregar. “Mais do mesmo” sem expectativas. A expressão não é minha, mas alguém que agora não recordo dizia na TV que o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa transparecia como um discurso ecuménico … e eu acrescento: e também do professor que se curva para diante, com os cotovelos sobre a mesa, talvez pensando que estava à secretária a ensinar que cada um tem, em sonhos, o seu “25 de Abril”!…
Por sua vez, o Presidente da Assembleia da República aproveitou o seu discurso para mandar uns “recadinhos” ao Presidente da República, pedindo para se evitassem atropelos da democracia e se respeitassem a estabilidade e cada um dos mandatos das Instituições.
Os discursos dos Partidos Políticos foram vazios no seu real conteúdo. Vazios e alguns com pensamentos erróneos, em que cada qual pisava o calcanhar do vizinho no seu ponto fraco. Apenas um comentário especial: No Parlamento, “neste 25 de Abril”, houve muito mais literacia!… Em alguns deputados despertaram a poesia, as citações e os textos onde colheram a inspiração. Pode ser que isto ajude a democracia a ter moral e amor à vida!..
E por onde andou o Primeiro Ministro, António Costa? Obviamente, teve um protagonismo relativo, comparativamente a Marcelo e Santos Silva. Mas foi dando umas entrevistas aqui e acolá, nos Paços Perdidos ou nos Jardins de S. Bento, a receber visitantes.
Termino assumindo que achei muito curiosa a frase que ouvi ontem a Anselmo Crespo: “O 25 de Abril é o encontro dos desencontros”.

Pode ler a opinião na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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