Assistimos neste momento a uma vivência pseudodemocrática a que o português se habituou ao substituir sistematicamente o pensamento profundo sobre as coisas pela improvisação! Devia ser o momento de todos, quer concordem quer discordem das políticas marginais, se centralizarem na discussão e na criação de um espaço comum qual é o de vencer a pandemia e salvar a economia hoje duplamente castigada, através do mais amplo consenso que se organizasse para além das políticas partidárias. Não foi isso que se aprendeu com a primeira vaga, não é isso que se vê com a segunda vaga, não é isso que seja quem for parece querer ver!…
Com efeito, a pandemia fez férias. Durante o verão, o vírus mergulhou no mar, passeou na areia, foi aos bares e restaurantes em agrupamentos perfeitamente inaceitáveis, sem o devido controlo. Ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, o SNS e o Governo não aproveitaram o verão para preparação para a hipotética segunda vaga, já esperada e que veio a acontecer. O argumento de que “está pensado isto”, “está pensado aquilo” era recorrente como resposta às perguntas que se iam fazendo!… E hoje … a confusão instala-se quando sobem o número de doentes infectados, o número de doentes nos cuidados intensivos, o número de mortos, e se assiste, porque é a isso que se assiste, a um verdadeiro descontrolo.
Pessoalmente não embarco em alarmismos, negacionismos ou medos exagerados, mas sou dos que partilham a necessidade de estudar, planear e tentar com a maior seriedade e transparência a resolução dos problemas. Prevenir e não correr atrás dos problemas! Não foi, nem é o que está a ser feito.
O que temos neste momento em plena segunda vaga da pandemia?
Uma curva ascendente de infectados e óbitos superior à da primeira vaga. O problema dos lares que não desarma. Mas agora já não são só os velhos que adoecem ou morrem. É visível o descontrolo do SNS que começa a ameaçar rotura, ocupado com a resposta aos problemas do Covid, com o progressivo esgotamento das unidades de cuidados intensivos … esquecendo, não sabemos para quando, os doentes habituais com patologias não Covid, mas de elevado risco. É evidente a sobrecarga das equipas no terreno e o cansaço dos profissionais de saúde ronda o limite. No dia em que se registam 7000 infecções, há um profissional de saúde que, quando lhe perguntam se estavam no limite, responde frente às câmaras da TV que ainda existe uma almofada … mas feita à custa do sacrifício dos outros doentes não covid … que vêm as suas consultas de outras patologias adiadas, e o mesmo acontece para as cirurgias não urgentes. HAJA DEUS!…
Retomam-se as reuniões do Infarmed que tinham sido suspensas … mas não se vê o que delas sai! Apenas comunicações do P.R. e P.M. ao país, para decretarem os estados de emergência (se calhar tardiamente…) e falarem de regras aprovadas pelo Governo frente à crise sanitária que se agrava. Uma forma de comunicar que necessitava de ser mais clara e menos contraditória … agora uns dizem uma coisa, pouco tempo depois outros dizem outra!… Como não querem que os portugueses continuem cheios de dúvidas?
Neste momento começaram as notícias sobre vacinas, por vezes com notícias avulsas que ocupam já grande espaço dos telejornais. E discute-se que a eficácia de uma é de 90%, a de outra é 94,5%, e a de 90% no dia seguinte já é de 95%!…E já vai haver vacinas em dezembro, dizem uns, outros que durante o primeiro semestre!… E até dizem que Portugal já comprou X milhões de vacinas!…
Finalmente, compreendo que é embaraçoso explicar aos Portugueses a não proibição da realização do congresso do PCP depois de todas as regras de emergência anunciadas. É muito mais fácil falar para aqueles que ontem, desabafavam na rua «deixem-nos trabalhar” ou então “ajudem-nos se nos obrigam a fechar”.
É embaraçoso, eu sei que é embaraçoso!…
Pode ler a opinião de Maria Helena Teixeira na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS
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