Opinião – Diário de Quarentena (8): Portugal de aluno sofrível a corrupto e pedinchão

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1. Recebemos 135 mil milhões para fazermos pela vida!
Como escrevemos na Crónica anterior, os primeiros dez anos de Portugal na União Europeia ( 1985-95 ) não foram “maus”, mas cá para nós que ninguém nos ouve, podiam ter sido “bem melhores”!
Tomando o PIB per capita, em paridade do poder de compra, Portugal passou dos infelizes 55% da media europeia de 1985, para os 66% de 1995. Era uma subida relativamente pequena, à espera de confirmação do nosso real valor, da nossa capacidade de “virar o jogo”! Ou seja, transformar problemas em soluções, procurar oportunidades em vez de mergulharmos em limitações.
Infelizmente, essa confirmação desejável, de competência, honestidade, garra e brio nunca veio, nestes últimos 25 anos que se seguiram. Bem pelo contrario!
Mal orientados, mostrámos à evidência, a uma UE surpreendida e desconsolada, alguns dos nossos aspectos mais negativos! De aluno sofrível, de poucas vistas e sem Mundo, mas cumpridor e estudioso, passámos a aluno preguiçoso, incompetente, corrupto e pedinchão!
E no entanto, embora tenhamos entrado para a UE, generosa e compreensiva, como agente passivo, sem pagar nada, quase por favor, recebemos dela no período entre 1995-2015 só de fundos estruturais cerca de 135 mil milhões de Euros, para “nos desenvolvermos e fazermos pela vida”! Os resultados não foram maus, foram péssimos, como iremos ver.

2. O PIB não é “flor que se cheire”
Quero dizer-vos caros leitores e quase todos concordarão comigo. O PIB para medir o desenvolvimento dum Pais é certamente um indicador simples, mas é muito enganador! Tem muitas debilidades como iremos analisar em próxima Crónica. O PIB, não é “flor que se cheire”!
Apesar disso fiquemos hoje aqui, pelo PIB, que é como a UE analisa o comportamento dos seus Países membros, incluindo o nosso! Não podemos estar para aqui a analisar duma forma e a UE (que é quem manda a guita) a analisar doutra!
Do PIB per capita, em paridade do poder de compra, de 12.070E em 1995 passámos para 23.275E em 2019. Nada mau! Dirão os leitores mais rápidos enquanto bebem a bica e um cálice de Licor Beirão (o Beirão mais amigo dos portugueses).
Esta aparente evolução fez-nos, todavia e para nosso mal, descer no Ranking dos 28 Países membros de 16º em 1995 para 21º em 2019. Fomos ultrapassados, por 5 Países. Adivinham quais são? Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Lituânia e Malta!
Caros amigos, só temos 7 Países atrás de nós! A incontornável Grécia e mais 6 que partiram muito de trás e se aproximam a galope para nos ultrapassar; Bulgária, Croácia, Hungria, Letónia, Polónia e Roménia. Não acham que é uma tristeza?
Do outro lado na barricada do sucesso, a Irlanda, que entrou connosco ligeiramente à nossa frente, passou de 13º lugar (em 1995 ) com 15.900E para um actual 2º lugar com 57.686E! É desse modo considerado, e bem, um aluno exemplar da UE e como tal bem tratado e respeitado!

3. O que fizeram eles para “nos darem esta tanga”?
O que fizeram todos eles para “nos darem esta tanga”! Simples, meu caro Watson (diria o Sherlock, dos nossos tempos de menino de calções, na Baixa de Coimbra, a fugir à policia porque não se podia jogar a bola na rua). Em vez de distribuírem, a torto e a direito, os fundos recebidos, rapidamente e em força, por amigalhaços em projectos manhosos e de fraca reprodutibilidade (formação profissional e auto-estradas, por exemplo), fizeram o que todos nós faríamos se o dinheiro tivesse sido ganho com o suor do nosso rosto!
Procuraram investidores estrangeiros com projectos de grande reprodutibilidade credíveis e adequados ao desenvolvimento de cada Pais. Estabeleceram empresas modernas e rentáveis criando empregos qualificados. Construíram tecidos industriais e de serviços fortes e coesos, susceptíveis de sobreviver a depressões (como a de 2008 ) ou a pandemias (como a actual e outras que poderão ai vir, longe vá o agoiro)

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