Opinião: O futebol e a economia

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Agora que a pandemia deixou de assustar muito por os portugueses se terem transformado em hábeis epidemiologistas e ainda melhores desinfetiologistas, o futebol voltou de forma ainda pouco entusiasmante a agitar as conversas pois alguns dos clubes mais modestos têm quebrado as euforias dos chamados grandes.
Poucos recordam os tempos em que: “Aí por 1921, um espetáculo desconhecido se deparou aos olhos das pessoas da Praça. Uns senhores, bem vestidos e calçados, de chapéus de feltro (os únicos dignos desse nome, já que não se fabricavam imitações) andavam a dar pontapés a uma bola de cabedal por fora, mas muito leve, que até subia muito alto. Eles andavam a estudar em Lisboa ou Coimbra”. ( 1 )
Surgem agora novos astros que timidamente são noticiados pela imprensa, mas poucos ainda se entusiasmam com o espetáculo, que só tem mais espetadores quando alguns adeptos tentam agredir os jogadores da própria equipa, castigando-os e desvalorizando-os como ativo das suas SADs. Pura loucura por ser uma autoflagelação. Mas, aquilo que se pretende com o futebol é que anime os consumos e os mercados associados. Podemos até imaginar quais, mas sendo os jogos sem público só influenciam os consumidores que ouvem relatos e vejam os jogos, sendo limitado o seu impacto. Só anima a discussão o facto de ser crescente o número de campos considerados apropriados à realização dos jogos, que faltam para determinar o vencedor do campeonato.
Como sabemos o confinamento de cada um de nós limitou as interações sociais, fechou estabelecimentos e limitou entradas em lojas de diverso tamanho e o medo perante conhecidos e desconhecidos, principalmente vendedores impede que conversemos e nessa conversa interfira a publicidade na decisão de compra, agora limitada à rádio, televisão e …redes sociais, que surgem cada vez mais determinantes no quebrar de medos e receios.
Aquilo que deve estar a determinar muito o desenvolvimento da economia é o desaparecimento de muitos mercados físicos ou virtuais e, mais ainda, o desemprego e as quebras de confiança entre consumidores quanto à qualidade dos bens e serviços. Tudo depende da confiança dos que pedalam nesta economia que só se equilibra se continuarem a pedalar.
Notava-se já antes a precariedade de muitas vidas e por sua vez nos projetos de consumo e …de vida. Entretanto, muitas ilusões que justificavam dispêndios desapareceram e deram lugar a vazios e a poupanças implicadas pelo distanciamento social, e assim ficamos à espera que a vida recomece tal como era antes.
Mas, sabemos que a nova normalidade será diferente da velha normalidade.
Terá de ser construída lentamente e muito a medo, tal como intuímos pelos medos que ouvimos quase em surdina.

( 1 ) Padre Francisco Fernando Freitas- Murça no Século XX, Editora Cidade Berço, Braga, 2012, p. 66.

Pode ler a opinião de Aires Antunes Diniz na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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