Opinião: A União Europeia e o “sucesso” português. Da realidade à política

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Segundo dados oficiais, Portugal cresceu um pouco mais que a média dos países da zona euro. Mas o rendimento nacional, medido em termos de paridade de poder de compra, desceu para 77% da média da União Europeia (UE). Enquanto fomos decaindo, os dez países do centro leste que aderiram à UE em 2004 recuperaram em média 17%, estando agora quase ao nosso nível, e como sete já nos ultrapassaram, contando com a Grécia, há quatro países atrás de nós. Mas as previsões indicam que, em breve, seremos superados pelos restantes três países, e até 2030, pela Grécia. Aí, o último lugar de todos, será só nosso! Espantoso, para quem aderiu à UE em 1986…
Contudo, o Governo atual gaba-se do “sucesso” tido no crescimento da economia nacional, mas, ao ritmo do último quinquénio, precisaremos de dois séculos para atingir a média da UE. Quem governa terá feito e faz o melhor que sabe e pode, mas deveria assumir a sua responsabilidade pelo nosso atraso económico. E mostrando as sondagens que a maioria achará que ninguém teria feito nem fará melhor, Costa & C.ia governarão até ao final da legislatura na paz do povo (são agnósticos…), e o povo decerto os reelegerá mais vezes, como agradecimento pelo que têm feito pelo país. Mas merecerão eles ter a confiança dos portugueses? Tudo depende do ponto de vista!
Os dados publicados em fevereiro último em documentos de trabalho da Comissão Europeia sobre Portugal, disponíveis no “site” oficial, são esclarecedores. Merecem cuidadosa leitura, já que crescimentos negativos são decréscimos, receitas cíclicas mais elevadas são mais impostos, e enfrentar importantes défices de investimento significa, por exemplo, não haver dinheiro para tratar devidamente os riscos ambientais, como o elevado risco de incêndio florestal que há por aqui. Fora o jargão e as minudências dos economistas, são fáceis de ler e até prendem a atenção.
Os peritos da Comissão Europeia indicam aí que investir na ferrovia e portos aumentaria a competitividade da nossa economia, e enfatizam negativamente o nosso fraco investimento em investigação e inovação (também julgo que sem acrescentar mais valor ao que se produz, não sairemos da cauda da UE…). E aqueles eurocratas referem ainda que houve progressos limitados (logo, poucos) na prioridade a despesas públicas que promovam o crescimento económico, e na redução da carga administrativa e regulamentar sobre empresas (burocracia), e que fomos bons na igualdade de género, mas não no abandono escolar e competências digitais (comprometendo o nosso futuro), e noutras muitas áreas. E que a pobreza vai (infelizmente) perdurando por aqui.
Nos documentos há referências positivas a medidas que alguns preferem salientar, pelo que o comissário europeu da Economia disse há dias em Bruxelas: “Portugal teve uma demonstração impressionante de recuperação após uma situação financeira e económica muito difícil e uma recuperação baseada na abertura da economia, em regras orçamentais muito inteligentes e, também, centrada na inovação e na digitalização, prioridades que são agora também partilhadas pela Comissão”. Mas são os dados oficiais que mostram a situação real de cada Estado-membro.
Quem governa o país decerto meditará mais nos alertas da Comissão Europeia sobre o estado real da economia nacional que Paolo Gentiloni, oriundo de um dos raros Estados-membros cuja dívida pública supera a nossa. É que aqueles documentos referem que “A baixa produtividade afeta negativamente a convergência de rendimentos em Portugal”. O insucesso de uma das mais débeis economias da UE exige que o Governo implemente programas centrados na resolução de questões basilares: Mais produtividade. Menos desigualdade. E maior competitividade nacional.

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