Opinião: Engenharia do impossível

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Quando reentro em Coimbra defronto-me com obras paradas por má gestão de um capitalismo disfuncional. De facto, este não consegue acertar com medidas que lhe permitam sobreviver ou melhor viver sem causar mal estar ao longo das margens do Mondego. Tornam-se estas inacessíveis ao meu olhar, que só procura a paz e a serenidade, que infelizmente não me traz neste momento algo confuso e cheio de problemas.

É o que conheço desde que abro a televisão para saber como vai o mundo. É onde nada parece deter a vontade de vencer dos poderes imperiais contra os seus inimigos internos e externos. Contudo celebrava-se em 1879 a engenharia possível onde:
«Funciona pois o Choupal e o seu extenso pedrado marginal (deversoir), como o grande regulador das cheias deste rio, a jusante de Coimbra». ( 1 )

Agora, no momento em que escrevo este texto encontro-me no país que está ao nosso lado na Ibéria, a televisão fala-me do Brexit e dos problemas da Catalunha que preocupam este povo que tal como o nosso só quer viver em Paz. Mas, Donald Trump ataca-o também com medidas alfandegárias contra o comércio livre entre os países, sem obedecer às regras que a teoria económica foi construindo e que defendem o fim dos bloqueios já que impedem o pleno desenvolvimento das tecnologias. E entre o Reino Unido e a União Europeia criam-se barreiras entre os povos europeus, causando mais preocupações no dia-a-dia dos que tiveram de emigrar como forma de sobreviver quando os empregos e as oportunidades de iniciativa rareiam nas terras onde antes viviam.

Inventaram-se como medidas de ilusionismo ideias mediáticas como foi o movimento pelo Interior, cujo resultado prático foi nulo, como elemento que pudesse dar esperança de animação de uma larga faixa do nosso território, que vemos assolado por fogos, que mostram claramente a inação perversa do poder central, que só consegue inventar umas falsas delegações de competências. Mas, estas nada resolvem neste nosso mundo local amaldiçoado pelo poder de um Capital mal-amanhado, que fez falir um sistema bancário que é agora um sorvedouro de dinheiros que faltam na Saúde e na Educação. Com elas, o Poder Central transfere custos para o Poder Local que fica sobrecarregado com competências que não conseguirá cumprir por não ser a sua vocação nem ter os meios humanos que o permitam.

Trata-se somente de medidas perversas de uma engenharia financeira, que apenas pretende resolver de forma oportunista os problemas que a corrupção das regras da boa economia criou.

Trata-se só de uma anomalia que o Poder Político não quer disciplinar por o Poder Económico não o querer de facto, obrigando-o a criar medidas paliativas que nada resolvem. Esperemos que o doente, o nosso mundo, não morra.

( 1 ) Portugal Pitoresco, Publicação Mensal sob a direção de Augusto Mendes Simões de Castro, Coimbra, Imprensa da Universidade, Novembro de 1879, p. 169.

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