Opinião – Notas soltas

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Norberto Pires

Norberto Pires

Vergonha: Gostava de dizer, com toda a frontalidade, que num país em dificuldades é inaceitável, imoral e obsceno que um administrador público ganhe 30 mil euros por mês. Não tem justificação nenhuma.
Isto não é de esquerda, nem de centro, nem de direita. É uma VERGONHA.
O mesmo Estado que paga uma miséria aos professores de todo o ensino obrigatório, que tão importantes são para o futuro do país, que não reconhece os melhores professores, sem os promover há vários anos e sem permitir progressão na carreia impedindo concursos, explicando que tudo isso se deve às dificuldades do país (o que todos entendemos), decide pagar 30 mil euros por mês ( 6x mais do que paga ao PM, mais de 10x o que paga aos seus professores) ao CEO de um banco que ainda agora precisou de 5 mil milhões de euros de aumento de capital por gestão danosa e muito duvidosa.
Não percebo que se justifique com o “mercado” a necessidade de pagar ordenados obscenos, superiores ao do PM e do PR, a administradores públicos, os quais, quase invariavelmente, apresentam péssimos resultados que depois são os contribuintes, de novo, que têm de suportar. A regra deveria ser muito simples, para todos os administradores públicos:
1 – O seu salário deveria ter uma componente fixa e outra variável;
2 – A componente fixa não poderia, em nenhum caso, sem nenhuma exceção, ultrapassar o vencimento do PM;
3 – A componente variável, que poderia equiparar o vencimento total ao “mercado”, deveria estar indexada a resultados sustentados da atividade do administrador. Isto é, seriam uma percentagem desses resultados comprovados;
4 – Não é aceitável que no Estado existam diferenças de salários superiores a 10x, quando se compara o salário mínimo com o salário máximo. Essas diferenças são sinal de subdesenvolvimento e de desrespeito pelos cidadãos.
Lamento tudo isto e que este país seja incapaz de respeitar os contribuintes e de dar o exemplo. Nota: aparentemente, de acordo com o que foi dito no Parlamento pelo Ministro das Finanças, o CEO da CGD tem um vencimento fixo de 423 mil euros anuais (~30 mil euros mês), e uma parte variável que pode chegar a 50% da parte fixa, ou seja, até 211 mil euros. Isto significa que se a gestão da CGD correr mal, pagamos 423 mil euros ao gestor, se correr bem (com resultados positivos), pagamos 423 mil + 211 mil = 634 mil euros (cerca de 45 mil euros por mês). Uma vergonha.

Representatividade da democracia: Em cada 10 açorianos recenseados para votar nas eleições regionais, 6 não foram votar, 2 votaram no PS, 1 votou no PSD e outro votou numa das outras opções (incluindo brancos e nulos).
Meritocracia e a CRESAP: O problema da CRESAP não tem a ver com o seu Presidente, em primeira análise, nem com a militância do Presidente num determinado partido, mas sim com o facto de em Portugal a “meritocracia” ser somente um chavão eleitoral. Na verdade, muito pouca gente com poder de decisão quer os melhores a tomar conta dos assuntos do Estado, nem tão pouco quer a competência como regra básica de acesso à gestão do interesse comum.
Um dia isso vai mudar. Nesse dia a CRESAP fará sentido, assim como será óbvio que são necessárias algumas alterações ao seu funcionamento:
1. Júri mais alargado, com os respetivos CV publicados no site da CRESAP;
2. Publicação de um resumo de todos os processos de seleção, disponibilizando a qualquer cidadão o acesso presencial a todos os dossiers de seleção;
3. Apresentação ao membro do Governo de uma lista dos 3 melhores candidatos, ordenada pela respetiva nota de seleção;
4. O membro do Governo poderia escolher qualquer candidato dessa lista, sendo obrigatório que o despacho de nomeação contenha a lista ordenada e as razões que levaram o membro do Governo a escolher, caso isso se verifique, um candidato que não tinha sido o mais bem classificado. O membro do Governo assumiria assim responsabilidade pessoal pela nomeação.

OE2017: Tenho procurado não ler nada sobre o OE2017. Vou ler a proposta de lei quando tiver um bocadinho de tempo. Registo, de um lado e do outro, que apesar do foguetório da retórica mediática todos fizeram amizade, mais ou menos profunda, com a senhorita TINA. Isso não me surpreende nada, nem me merece nenhum comentário.

Pedro Passos Coelho e as mudanças de “discurso”: Em entrevista ao Jornal Público de 21 de Outubro de 2016, onde já admite, depois da profecia do diabo ter falhado, que o défice de 2016 será de 2,5% do PIB (ao contrário do que jurava a pés juntos até Agosto de 2016 ) e que irá fazer propostas para o OE2016 (quando em 2015 recusou isso liminarmente porque, dizia, o Governo era ilegítimo), o ex-primeiro-ministro afirmava que “Atualmente o país está a crescer, tem perspetivas para futuro, que eu presumo que não sejam comparáveis às que tinha em 2011. Tem problemas para resolver, com certeza. Mas não se podem considerar de emergência financeira” – um estado onde há “necessidades para as quais não temos recursos”. Portanto, segundo Pedro Passos Coelho (líder da oposição): 1. O país está a crescer; 2. Tem perspetivas para o futuro; 3. Tem problemas para resolver; 4. Não se pode considerar que está em emergência financeira. Oh! diabo, isto começa a não fazer muito sentido. Certo? Não! As mudanças de discurso são permanentes em quem faz disso a sua vida.

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