Opinião: Felicitações necessárias

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Aires Antunes Diniz

Aires Antunes Diniz

Os últimos anos têm sido difíceis para os professores. Muitos ficaram desempregados e vivem agora vidas difíceis e marginais, cuidando até dos seus idosos para poderem sobreviver. Há também economistas a quem acontece a mesma coisa. E a estes é bem feito só por terem acreditado em patranhas que “aprenderam de cor” nas faculdades de economia. Tudo piorou de facto com umas teorias que fazem da manipulação da moeda a forma de resolver tudo com facilidade. E nada é fácil.
Antes na década de 1880, houve tempos em que os professores se reuniam por ordem do poder central, contrariados pelo poder local e havia situações em que “O presidente disse ter recebido uma felicitação dos professores reunidos em conferência pedagógica no Círculo de Coimbra dirigida a esta assembleia” 1 . E assim se foi conseguindo melhorar a condição social e profissional dos professores.
Naturalmente, alguns dos mentores do Salazarismo fizeram da proibição das reuniões um elemento fundamental da domesticação dos professores, mas tal tinha implicações graves na degradação do saber fazer pedagógico.
Tendo aprendido com eles, Maria de Lourdes Rodrigues, enquanto Ministra, foi eliminando as possibilidades de reunião pedagógica, cortando logo nos dias para idas a Congressos científicos, pedagógicos e sindicais. Transformaram-se assim os congressos da FENPROF em dois dias de intensa discussão, em que pelo menos mais um dia era necessário. Mas, agora que os tempos são outros e há oportunidade de repor a ordem necessária nas escolas, há que voltar a discutir pedagogia e a relacionar o tamanho das turmas com a metodologia a aplicar como se fez em Vila Real em 1886.
De facto, ao ler com atenção o que diziam os professores na década de 1880, quando a pedagogia estava a entrar na prática docente por o poder político também o desejar, sinto uma profunda amargura ao recordar os anos de degradação da escola perpetrada pela governação Sócrates/Passos Coelho, em que o primeiro em simultâneo degradou a condição docente e fez obras faraónicas mal arquitetadas pela Parque-Escolar em escolas, degradando-as.
Então, inacreditavelmente, quando se pensava em melhorar a escola para a tornar mais inclusiva combatendo o abandono escolar, promoveu-se a degradação das condições de trabalho, aumentou-se o número de alunos por turma, restringiram-se e eliminaram-se os cursos mais caros mas de maior empregabilidade. E sempre o fizeram para embaratecer o ensino desempregando professores e o pessoal de apoio à docência.
Infelizmente, a grande “discussão” é sobre a manutenção de boas condições em colégios, esquecendo-se de que as escolas públicas precisam de ser bem aproveitadas e convenientemente apetrechadas.
Lembremo-nos disso.

 1 Arquivo Municipal de Vila Real, 5ª Circunscrição, 3º Círculo de Vila Real, Atas das Conferências Pedagógicas, 1º livro 1885-1888, folha 19 verso.

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