Opinião – Mas eles não percebem?

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Paulo Valério

Paulo Valério

O caso das fichas falsas no PS Coimbra terminou com a suspensão provisória do processo, mediante acordo do Ministério Público, dos arguidos e do assistente.

Na prática, os arguidos – presumidos inocentes – trocaram o doloroso apuramento da verdade pelo conforto das suas vidas, mediante o pagamento de certas quantias a instituições de solidariedade social. Não é um conluio ou um favorecimento, como alguns poderão pensar e outros se apressaram a insinuar. A suspensão resulta da lei penal e é utilizada todos os dias, para crimes puníveis com pena de prisão não superior a 5 anos ou com sanção diferente da prisão.

Não é, portanto, a ação penal que está em crise agora. Essa seria uma outra discussão. O que está em causa é que os arguidos, militantes de um partido político, aceitaram sacrificar a prova da sua integridade, para pôr termo a um processo-crime que os importunava. Ao fazerem-no, abdicaram do julgamento dos tribunais, mas ficam expostos, mais do que nunca, ao julgamento público. E eu que estive calado estes anos todos, sem dizer uma palavra que fosse sobre o assunto, tenho agora o direito de dizer o que me vai na alma.

Os visados são gente com responsabilidades acrescidas. Um presidente de uma câmara municipal; um ex-deputado e atual presidente da maior concelhia do Distrito de Coimbra; um ex-presidente da Associação Académica de Coimbra, entre outros. Nestas circunstâncias, bem poderão dizer – como disse, espantosamente, o ex-deputado Rui Duarte – que aceitaram a suspensão do processo em nome dos superiores interesses do Partido Socialista. Mas ao fazerem-no, só tornam evidente que não percebem nada do que lhes está a acontecer.

Não percebem que a Política, com maiúscula, é incompatível com concessões de mera oportunidade, quando o que está em causa é a honradez dos seus protagonistas. Não percebem que até poderão beneficiar do aconchego das suas cortes, lá nas passadeiras vermelhas onde se movem, mas que nas suas costas frutificará apenas a desconfiança e o repúdio. Não percebem que ao abdicarem de provar a inocência que vinham reclamando e ao contrário do que sugerem, espalham a suspeição sobre o partido e sobre todos os militantes.

Ao contrário do que muitos possam pensar, não acho que os visados devam ser queimados numa fogueira, como se a política partidária estivesse em condições de sustentar autos de fé. Mas isso também não concede que se passeiem alegremente, como se nada fosse, achando-se até no direito de promover debates públicos sobre a refiliação nos partidos, ofendendo a inteligência dos militantes e dos cidadãos em geral.

Por ora, resta-lhes terem a dignidade de sair ordeiramente do Partido Socialista, antes que seja o partido a abrir-lhes a porta da rua, como é imperativo que aconteça à luz dos respetivos estatutos. Sem dramas. Mas como fazem as pessoas crescidas.

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