Opinião – Declaração

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Paulo Júlio

Paulo Júlio

Esta é uma declaração que tem como pano de fundo a sentença do Tribunal de primeira instância a propósito de um concurso para uma chefia de divisão, realizado em 2008, quando eu era Presidente da Câmara de Penela.

Foi uma decisão inesperada e baseada, como está escrito na sentença, na “convicção do julgador”, apesar de ter ficado provado que eu sou “homem sério”, “bom profissional” e de “reconhecida capacidade intelectual”. Ainda que o processo tenha direito a recurso, como cidadão que preza a honra e a honestidade, os dias que se seguiram foram particularmente difíceis.

Por essa razão, hoje, apetece-me falar da causa pública. Desde jovem que me interessei pelo colectivo, pelo associativismo e, talvez por essas razões, sempre entendi que todos os cidadãos poderão, nalguma parte da sua vida, dar de si à causa pública e à sociedade. Estudei em Coimbra, licenciei-me em Engenharia Electrotécnica, depois, graças a uma bolsa da antiga Junta Nacional de Investigação Científica, que era dada somente a licenciados com médias superiores ou iguais a 14 valores, concluí um Mestrado em Sistemas Industriais e em 1996, tomei a primeira grande decisão da minha vida e ingressei numa multinacional brasileira onde estive quase 10 anos. Conto isto, não para informar sobre o meu Currículo, mas para ir ao ponto da causa pública.

Porque em 2005, quando era Director Geral para a Europa daquela organização (ainda hoje uma das maiores construtoras de autocarros do mundo, apesar de em 2009, infelizmente para Coimbra, ter decidido encerrar a fábrica que lá tinha), depois de desafiado por muitos conterrâneos, decidi tomar a outra grande decisão de vida profissional, ao sair e propor-me a eleições para a Câmara Municipal de Penela. Fi-lo por amor à terra onde cresci, à terra dos meus ascendentes e porque acreditava piamente que poderia ajudar a melhorar a vida daquelas pessoas.

Para mim, causa pública é isso, proteger e colocar, naquele caso o Município, à frente de outros quaisquer interesses. Auferia naquele tempo, o dobro do salário do Presidente da Câmara de Penela. Não fui por dinheiro, fui para mudar, para trabalhar, para me incomodar com o que fosse preciso, com vista a fazer de Penela, uma terra melhor.

Causa pública no meu entendimento, é darmos ao colectivo, durante um tempo, seja na nossa terra, na nossa região, no nosso País. Com certeza que também fiz coisas erradas. Se fosse hoje, teria feito outras de outra forma, mas o resultado final, modéstia à parte, foi razoável.

Quando em 2011, assumi funções no Governo, ponderei não aceitar, mas, por outro lado, o tal sentido de causa pública, de fazer alguma mudança definitiva num sector que eu conhecia bem, acabou por pesar mais.

Fui e, como diz o Povo, dei o peito às balas por uma reforma na administração local de que me orgulho porque, hoje, o défice das autarquias portuguesas não existe mais, tendo dado lugar a um superávit de quase 1000 milhões de Euros, resultado de muitas mudanças legislativas no sector.

Saí dessa “causa” há 2 anos, precisamente quando fui alvo da acusação do Ministério Publico sobre o concurso para a chefia de divisão que agora, resultou na sentença de condenação, depois de vários recursos do MP.

Reflicto se terei feito alguma coisa errada. Ainda confio na Justiça Portuguesa, pelo que não é este o momento para me alongar sobre o tema, mas há uma coisa que continuo a afirmar de dentes cerrados.

Se fiz alguma coisa de errado não foi para prejudicar a causa pública, nem tão pouco de modo a agir contra nenhuma lei, em consciência. Isso, digo-o tão convictamente quanto a senhora juiz daquele julgamento.

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