Opinião – O papa em Lampedusa em tempos de globalização

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MANUEL AUGUSTO RODRIGUESManuel Augusto Rodrigues

Lampedusa era até há pouco uma ilha famosa apenas pelo turismo. As suas praias, em especial a dos Coelhos, continuam a atrair milhares de pessoas à minúscula ilha italiana do arquipélago das Ilhas Pelágias, no Mar Mediterrâneo, que numa área de 20,2 km², conta uns escassos 6 mil habitantes. A população dedica-se fundamentalmente à agricultura e à pesca.

Mas desde os anos 2000 Lampedusa tornou-se mais conhecida por outras razões. É hoje o local de desembarque de muitos migrantes clandestinos vindos do norte de África. Todos os meses, centenas de imigrantes ali desembarcam; de paraíso turístico passou a ser um foco da crise humanitária semelhante a tantos outros por esse mundo fora. Em 2012, chegaram à ilha cerca de 13 000 migrantes, com as suas mulheres e filhos, calculando-se para este ano um número aproximado. O cemitério já não comporta mais sepulturas. Outrora eram os europeus a emigrar para as Américas e outros recantos do globo. Agora o Velho Continente nega, pelas mais variadas e duvidosas razões, a entrada aos que lhe batem à porta. Para além dos números, o que importa é assegurar aos refugiados e aos que pedem asilo os respectivos direitos de acordo com a sua dignidade de pessoas humanas, sem deixar de contribuir para o desenvolvimento dos países pobres que enriquecem apenas alguns!

O Papa Francisco, o “migrante” que saiu de Génova em 1928, tem vindo a afirmar que a Igreja deve sair para fora do seu reduto, ao encontro dos mais carenciados, até às mais longínquas fronteiras, decidiu agora deslocar-se a Lampedusa. O Papa, que tem mostrado uma atenção particular para com os excluídos (há dias foram recebidos nos jardins do Vaticano 200 sem abrigo), quer mostrar a todo o mundo defende a destruição das políticas dos muros e das barreiras, expressão de uma mísera visão do fenómeno migratório. Brevemente participará no Rio de Janeiro na Jornada Mundial da Juventude.

O programa da visita papal, foi simples, pois o que importa é a mensagem. O momento alto foi o lançar ao mar uma coroa de flores em memória de quantos perderam a vida naquelas águas. Uma visita que se realizou da forma mais discreta possível, sem a presença de bispos e autoridades civis. O Papa Francisco, impressionado pelo recente naufrágio de uma embarcação que transportava migrantes provenientes de África, último de uma série de tragédias análogas, pretende rezar por aqueles que perderam a vida no mar, visitar os que sobreviveram e os refugiados presentes, encorajar os habitantes da ilha e fazer um apelo à responsabilidade de todos para que preste atenção a estes irmãos e irmãs em extrema necessidade. Finalmente o drama dos imigrados deverá abrir os olhos não só à Europa mas a todo o mundo. Os irmãos migrantes poderão ver que alguém com simplicidade e com afecto está do seu lado.

Em pleno séc. XXI, a ONU e seus organismos, Bruxelas, os governos em geral, a começar pelos africanos e europeus, os políticos, os homens da ciência e da cultura, etc. etc. vergam-se perante o capital e interesses obscuros, pondo de lado a Carta dos direitos humanos e tanta documentação produzida que não passa de letra morta. As políticas devem eliminar ou atenuar as enormes diferenças de vida entre países ricos e pobres. Como disse há pouco Francisco, esquecem que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e não à imagem e semelhança do dinheiro. Também afirmou que o chamado G8 devia dedicar uma reunião ao tema “Economia e Ética”.

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