João Silva
Que Coimbra – de homens e mulheres, de cumplicidades e de teias relacionais e organizacionais -, se esconde debaixo da capa da sua bela e inconfundível imagem? Será possível definir Coimbra sem recorrer às repetitivas imagens feitas ou à mera descrição da sua skyline? Qual a sua verdadeira natureza e desígnio?
Há muitas opiniões e também estudos que podem ajudar a uma reflexão profunda sobre o assunto, mas a breve opinião que aqui trago radica na convicção de que Coimbra, a minha cidade, vai entrar num novo e grave ciclo de sofrimento relativamente ao qual não vejo a devida preocupação.
Depois de uma problemática primeira vaga de desqualificação com a disseminação de instituições de ensino universitário pelo país, após a instauração da democracia, sofreu uma segunda vaga desqualificadora com a degradação do ambiente político local, particularmente com o desaparecimento de figuras tutelares e de prestigio nacional, e agora está a sofrer uma terceira vaga profundamente debilitadora da sua infra-estrutura económico-financeira, sem que conheça qualquer preocupação por parte dos “homens e mulheres responsáveis da cidade.”
Basta atentar um pouco no relevante peso dos serviços, particularmente na área da saúde e do ensino, e ter em atenção a política governamental de estrangulamento dessas áreas e ainda a brutal diminuição do salário dos funcionários públicos e das pensões dos reformados, que representam uma parte importantíssima da base social da cidade, para perceber a violenta destruição do nervo financeiro da cidade, que está em curso.
Hoje, a cada dia que passa, por força das políticas nacionais e das omissões e incapacidades das políticas locais, Coimbra tende a ser uma cidade mais débil em termos sociais e económicos, não se conhecendo qualquer iniciativa ou ideia, por mínima que seja, tendente a alterar este estado de coisas. Depois do comércio tradicional ter sido praticamente destruído e da indústria de construção civil desmantelada, soma-se agora a debacle nos serviços, o que levará a uma crise de dimensão inimaginável.
É verdade que há uma nova geração de empresas, só que estas têm uma expressão limitada e, pela sua natureza, não vão nem podem ser a almofada capaz de absorver os impactos de uma destruição do tecido económico existente feita a mata cavalos e sem qualquer visão humanista.
No meio de tudo isto e porque rareiam os fazedores de cidade, vamos assistir a uma rápida e assustadora degradação do ambiente urbano e à consolidação da imagem de uma cidade descrente e moribunda a quem vão dando sucessivos pontapés, sem que seja capaz de se levantar e reagir.
Porque me parece tudo isto tão evidente e porque não vislumbro qualquer reacção plausível, aqui fica a expressão da minha angústia pelo futuro da cidade que escolhi para viver. Afinal que cidade é esta?
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