Opinião – A Fé (nova evangelização)

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Monsenhor João Evangelista

Sob esta expressão cabe uma enorme variante de conceitos e de atitudes, verdadeiros ou supostos, racionais ou intuitivos, humanos ou divinos, isto é, quando falamos de podemos confundir-nos facilmente. Sendo a Fé o valor chave de qualquer religião, não é, contudo, o mais reconhecido e clarificado – a avaliar pelas respostas tanto dos descrentes como dos crentes a esta pergunta: “O que é a Fé?”.

Muitos refugiam-se num “não sei explicar, mas sei o que é” com claras incoerências, outros afirmam certezas, que vão do mais radical fanatismo à mais obscura negação do não porque não. A fé precisa de ser ensinada e aprendida de novo, tanto à inteligência como ao coração dos homens.

Há descrentes que se reconhecem como tal e têm fé, há indiferentes convictos cheios de si próprios onde não há lugar para Deus e há crentes que o são de verdade e praticam, mas há outros que se afirmam crentes e não praticam.

Se o mapa da Fé é muito variado e abarca todas as cores, os significados da palavra fé e o sentido que as pessoas dão é, também, muito variado.

Começando pelos ateus assumidos, para quem a Fé não passará duma ilusão, uma utopia, uma anormalidade psíquica, a fé não é reconhecida. Se alguma coerência fosse possível no raciocínio sobre a fé, de um ateu, ela o denunciaria como cego que não quer ver. Fechar os olhos ao transcendente é escolher a morte, e tornar-se responsável pela ruína que os espera.

A postura dos agnósticos, perante a fé, é pretensiosamente mais coerente e lógica do que a dos ateus. Apoiando-se na sua ignorância (a gnose) sobre Deus, proclamam-se neutros e decidem não o combater nem a defender. Com a garantia de que no meio é que está a virtude sentem-se virtuosos na sua ignorância. Sabem que a fé é um dom de Deus que não lhes foi concedido. Sentem-se discriminados por Deus, a quem devolvem a culpa da sua incredulidade. Para comprovarem a sua tolerância admitem a existência dum Supremo Arquitecto do Mundo.

Esta postura agnóstica que goza de muitas simpatias na classe política é muito mais anti teísta do que o próprio ateísmo. É uma negação sofisticada. Comprova que desconhecem Deus, mas ao mesmo tempo culpabilizam-nO pela sua falta de fé. Deus discriminou-os ao não lhes conceder o dom da fé.

A nova Evangelização não poderá deixar de ter em conta responder a esta postura, de anti teísmo pseudo-científico e pseudo virtuoso, que perturba o trabalho do anúncio da Verdade. Na nova Evangelização não cabe nenhum objectivo de intervir no poder político ou de conflito ideológico. Basta abrir aos homens o conhecimento de Deus. Não é um Deus discriminador, um Deus que marginaliza ninguém nem os seus próprios inimigos. “Pai, perdoa-lhes que não sabem o que fazem”. E a Fé nesse Deus é totalmente livre.

O dom da Fé é para todos os que livremente a querem receber. Sem este protocolo, Deus não dá a Fé. O homem que a recusa não é totalmente inocente ou vitima na sua descrença, mas poderá sê-lo do seu orgulho intelectual.

A Fé encontra-se na verdade, no diálogo amoroso com deus, na prática do amor gratuito.

Aos crentes que se identificam com uma religião porque acreditam em algo, ou porque têm a sua fé, ou porque já participaram em algum ou alguns ritos sacramentais ou cortejos litúrgicos ou festas religiosas, importa ajudá-los a descobrir a Fé na liberdade da sua consciência e a sugerir-lhes que a Fé é uma relação pessoal com Deus não é algo, que a fé pessoal de cada um não vence a morte, nem garante a vida eterna no reino de Deus e que a Fé não é um puro sentimento de que se gosta ou não. A fé é só uma e mesma para todos. A fé confirma-se pelas obras.

Aos crentes recordo o apelo do Senhor Jesus para nos ofereçamos para o trabalho na sua vinha e o diálogo amoroso da conversão à fé de Santo Agostinho, do século VI – “Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Estáveis dentro de mim e eu estava fora, e aí Vos procurava; e disforme como era, lançava-me sobre estas coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Mas Vós me chamaste, clamaste e rompestes a minha cegueira. Exalaste o vosso perfume, respirei-o e agora suspiro por vós. Saboreei-Vos e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e comecei a desejar ardentemente a vossa paz”.

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