Manuel Augusto Rodrigues
O cardeal Gianfranco Ravasi escreveu recentemente no “Osservatore Romano” um interessante artigo sobre o tema em epígrafe. O purpurado que é o presidente do Pontifício Conselho da Cultura referiu-se a um novo “Pátio dos Gentios” que está nascer em rede. É um sinal da abertura da Igreja aos crentes e aos não crentes que a interpelam sobre variadíssimos problemas.
A 21 de Julho de 1911 nasceu em Edmonton, capital do Estado canadiano de Alberta, o filósofo e pedagogo Herbert Marshall McLuhan (1911-1980), celebrando-se agora o centenário do seu nascimento. O seu nome tornou-se uma espécie de bandeira no horizonte da comunicação social e do estudo das novas tecnologias de interligação de povos e pessoas. Depressa os slogans “O meio é a mensagem” e “Aldeia global” passaram a andar na boca de todos. O mesmo se diga da “Galáxia Gutenberg” ou de “A cidade como aula escolástica” que entraram em todas as bibliotecas, porque se tornaram uma ferramenta indispensável.
Os modelos de eloquência já não são os clássicos mas as agências publicitárias. Nos seus livros como “A esposa mecânica. Folclore do homem industrial” (1951) disserta sobre o papel da informação e do seu desenvolvimento, como sucedeu com o fenómeno televisivo. O falecido Sidney Lumet escreveu o notável livro “Quinto poder” (1976), significativamente intitulado no original americano “Network, e Orson Welles falava do “Quarto poder” (1941) que foi o arquétipo deste género.
O sociólogo americano John Barlow referia-se ao ambiente total e à atmosfera global que domina e penetra tudo e todos. Um dos emblemas mais significativos é certamente o blog que já chegou a todo o nosso planeta. Os bloggers não gostam de longos discursos, mas de debates on line em directo, uma espécie de jogo de ténis de impressões, avaliações, juízos imediatos.
Foi neste contexto que dois dicastérios da Santa Sé, os Pontifícios Conselhos da Cultura e das Comunicações Sociais, decidiram propor o dia 2 de Maio passado, a propósito do grande evento da beatificação de João Paulo II, um encontro entre os bloggers, possivelmente representantes de 157 milhões de pessoas da blogsfera. Dos 750 pedidos de participação, por motivos logísticos foram escolhidos apenas 150: 50 de acordo com a representatividade geográfica e temática e 100 por sorteio. Havia dois painéis: o dos bloggers e o dos representantes da Igreja que iam respondendo às questões colocadas, sempre em clima de diálogo e espírito de sã convivência. As novas praças e as novas catedrais foram transformadas em espaço virtual. Os organizadores ouviam as questões, as esperanças, os temores, as dúvidas e as aspirações dessa vastíssima comunidade que segue a vida da Igreja mais do que se possa imaginar. Trata-se de uma nova forma de evangelização através do diálogo que pretende decifrar a mentalidade, a cultura e a filosofia que anima os bloggers.
O blog é um diário de bordo em formato electrónico que não só regista os factos mas comenta-os segundo a sensibilidade pessoal, uma reflexão sobre a actualidade, e, uma interpretação da existência. O encontro de 2 de Maio originou mais de 80. 000 “tweets”. Uma modalidade comunicativa deste género abre horizontes surpreendentes não só para a publicidade, mas para a própria formação humana e cultural. Devia estudar-se o blog e a rede dos bloggers, criando espaços de debate e de confronto tematicamente inusuais mas não por este menos eficazes e incisivos. Interessante a acção dos chamados “new pockets of dialogue”, pequenos grupos de reflexão, capazes de interceptar os outros, à procura de respostas sobre temas muito sensíveis na actualidade.
O encontro do dia 2 de Maio fez compreender que está a nascer uma nova realidade que comunica emoções, sentimentos, movimentos de ama, opiniões, segundo uma modalidade inédita que o próprio McLuhan jamais teria imaginado. Vem à mente um aforisma do filósofo grego Tales (sécs. VII-VI a. C. ): “Muitas palavras não são nunca indício de muita sabedoria”.
O “Vatican Meeting for Bloggers” entrou a fazer parte da história da comunicação. Federico Lombardi disse a este respeito: “Os bloggers católicos representam uma parcela relevante da opinião pública na Igreja. O magistério conciliar já previa esta realidade”. E ainda: “O ego é um elemento problemático mas significativo da realidade dos bloggers. Vejo-o como um problema merecedor de reflexão mesmo do ponto de vista existencial, para que vivamos o nosso trabalho de comunicadores da palavra “serviço”. É um serviço para o crescimento da comunidade humana na democracia, no respeito e no diálogo». O espaço profano e o sagrado estão a encontrar uma nova modalidade de aproximação.